O mercado de Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs) segue em expansão acelerada no Brasil, mesmo em meio ao cenário de inadimplência elevada.
Até o meio deste ano, o patrimônio líquido do setor alcançou entre R$ 687 bilhões e R$ 690 bilhões, alta superior a 40% em relação ao mesmo período de 2024, com mais de 3.200 fundos ativos. O crescimento foi impulsionado tanto pelo aumento no número de veículos, que avançou mais de 32%, quanto pelas captações líquidas, que somaram R$ 112,8 bilhões nos últimos 12 meses — desempenho superior ao da renda fixa tradicional.
O avanço ocorre em um ambiente desafiador: a Selic permanece em 15% ao ano e, com a Super Quarta marcada para 17 de setembro, a expectativa é de manutenção da taxa, mantendo o crédito caro. Paralelamente, a inadimplência corporativa alcançou nível histórico, com 7,3 milhões de empresas negativadas, a maioria micro e pequenas, comprometendo cadeias produtivas inteiras.
Setores mais afetados e o papel dos FIDCs
Serviços e comércio estão entre os setores mais impactados pela escassez de capital de giro. Nesse contexto, os FIDCs têm se mostrado mais resilientes que os bancos tradicionais, ao diluir riscos por meio de estruturas multicedente e multisacado. “Os FIDCs podem atuar como ferramenta de sustentação justamente porque pulverizam riscos. Mesmo em cenários de inadimplência elevada, quando o modelo é bem estruturado, o resultado segue positivo”, afirma Vicente Guimarães, diretor de Relações com Investidores do Grupo IOX.
A lógica da robustez está no modelo de originação e monitoramento do crédito. Segundo Guimarães, a IOX combina operações de curto e longo prazo com gestão ativa de NPLs (créditos inadimplidos). “Enfatizamos o crédito personalizado, ajustado sob medida para que as empresas possam prosperar. Distribuímos riscos entre diferentes clientes e setores para reduzir a exposição e garantir liquidez”, explica.
Alternativa diante da retração bancária
Com os bancos mais restritivos, os FIDCs assumem protagonismo no financiamento empresarial. Além de ampliar o acesso das PMEs a funding, oferecem previsibilidade e segurança para investidores institucionais. A diversificação das carteiras e os mecanismos de mitigação de risco têm permitido que o segmento se fortaleça mesmo em meio à instabilidade macroeconômica e à pressão da política monetária.
No balanço, a alta inadimplência não comprometeu a atratividade dos fundos. Pelo contrário: o desempenho recente confirma os FIDCs como alternativa estratégica para sustentar empresas em momentos de crise e, ao mesmo tempo, preservar retornos consistentes para investidores.