Nesta semana de Super Quarta, Brasil e Estados Unidos anunciam suas decisões de política monetária no mesmo dia, concentrando a atenção de investidores, empresas e governo. A reunião do Banco Central do Brasil começa já nesta terça-feira (16) e a deliberação do Copom sai na quarta (17), quando o Federal Reserve também divulga a decisão do FOMC, seguida de coletiva. Além disso, o ambiente de dados recentes, atividade perdendo fôlego e inflação mais benigna na margem, coloca holofotes sobre o tom dos comunicados.
Nesse sentido, a expectativa doméstica majoritária é de manutenção da Selic em 15% ao ano, enquanto, nos EUA, parte dos analistas aposta em corte de 25 pontos-base pelo Fed. Por outro lado, mesmo com sinais de moderação nos preços, persistem preocupações com núcleos de inflação e serviços no Brasil, o que tende a sustentar uma comunicação cautelosa do Copom. Enquanto isso, o mercado acompanhará o SEP (Summary of Economic Projections) e o dot plot para calibrar a trajetória dos juros americanos.
O que esperar do Copom na Super Quarta?
Para o economista Leonardo Costa, do ASA, o Copom deve manter a Selic em 15% e “ser mais direto ao sinalizar a interrupção do ciclo, reforçando que a política monetária seguirá contracionista por período prolongado“, avalia. Além disso, ele destaca que houve melhora na margem das expectativas de inflação e sinais mais nítidos de desaceleração da atividade e dos preços, o que pode abrir, lá na frente, uma “janela de dezembro” para discutir início de cortes, ainda dependente de dados e ancoragem de expectativas.
Na mesma linha, Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, vê manutenção como amplamente esperada e desloca o foco para a comunicação. “O Comitê deve sustentar um tom firme, preservando credibilidade e compromisso com a convergência da inflação“, destaca. Nesse sentido, Sung projeta cortes apenas a partir do primeiro trimestre de 2026 e uma Selic encerrando 2026 em 13%, sinalizando um ciclo lento e gradual.
Já Beto Saadia, diretor de investimentos da Nomos, ressalta que, desde a última reunião, houve avanço no processo de desinflação e arrefecimento da atividade, ainda insuficientes para alterar a postura do BC. “Esperamos um comunicado menos duro, em comparação ao anterior, com ajuste para baixo nas projeções de inflação de curto prazo e a mensagem de que o nível atual da taxa é adequado para perseguir a meta no horizonte relevante“, analisou.
Super Quarta também nos EUA: o que observar no FOMC?
O Comitê de Política Monetária do Federal Reserve se reúne para decidir juros nos EUA, o anúncio é acompanhado de coletiva do presidente Jerome Powell e atualização do SEP. De acordo com Andressa Durão, economista do ASA, o cenário-base é de corte de 25 bps, com o comunicado reconhecendo a desaceleração do mercado de trabalho. Além disso, os dados mais recentes sugerem um Core PCE benigno para agosto, reduzindo a necessidade de revisar a inflação de 2025 para cima.
“O PIB do ano pode ser revisto para cima após revisões trimestrais altistas, enquanto a taxa de desemprego projetada para 2025 pode permanecer na faixa já indicada em junho, salvo se o Fed enxergar deterioração adicional“, avalia a economista. Por outro lado, ela observa um risco relevante de o Fed entregar três cortes consecutivos de 25 bps ainda em 2025, caso pese mais o entendimento de que a piora do emprego requer redução mais rápida do grau de restritividade.
Na coletiva, Powell deve enfatizar um “novo equilíbrio de riscos”, com maior peso para o mercado de trabalho, sustentando a necessidade de normalizar a taxa em direção a um nível menos restritivo. Nesse sentido, o dot plot ganhará papel-chave para ler a cadência de 2025–2026 e o ponto de chegada do juro neutro implícito.
Como investidor deve se preparar para a Super Quarta?
A Super Quarta deve oferecer mais pistas do que mudanças abruptas. No Brasil, o recado tende a ser de continuidade da estratégia, com eventuais “janelas” para discussão de cortes apenas se expectativas ancorarem e a inflação subjacente seguir cedendo. Nos EUA, a leitura fina do mercado de trabalho e do dot plot definirá a velocidade da flexibilização. Além disso, para o investidor, o principal será interpretar a mensagem dos comunicados e calibrar posições diante de um cenário em que a direção é conhecida, mas o ritmo, ainda não.
- Terça (16): início da reunião do Copom e do FOMC; ajuste de posições e leitura de prévias de mercado.
- Quarta (17): decisão do Copom e do Fed; atenção redobrada ao comunicado, ao SEP e à coletiva de Powell.
- Pós-decisão: observar reprecificação de curva de juros, reações no câmbio e em setores sensíveis a juro e consumo.