O Comitê de Política Monetária (Copom) deve decidir nesta quarta-feira (17), o futuro da taxa Selic. A expectativa é que a taxa de juros siga em 15%, reforçando a estratégia de cautela diante de uma inflação ainda acima da meta. Segundo o Boletim Focus, desta semana, a taxa básica de juros só deve começar a ceder de forma relevante em 2026, com projeção de 12,38%.
Esse cenário prolonga o ambiente de juros elevados, o que pressiona o crédito corporativo e mantém o custo de capital em patamar alto. Para empresas e investidores, o recado é claro, será necessário adotar estratégias mais seletivas, priorizando governança, disciplina financeira e instrumentos de crédito estruturado para atravessar o ciclo de aperto monetário.
O que diz o mercado sobre a Selic?
Para Gustavo Assis, CEO da Asset Bank, a possível manutenção da Selic cria um ambiente propício para operações estruturadas. “O Focus sugere que só em 2026 a Selic cede de forma relevante, para 12,38%, prolongando o ambiente favorável a operações estruturadas”, afirmou.
Na mesma linha, Richard Ionescu, CEO do Grupo IOX, avalia que o custo elevado do crédito exige soluções financeiras sob medida. “O crédito estruturado se torna ainda mais estratégico, pois equilibra liquidez imediata com segurança ao investidor. O desafio agora é alinhar crescimento com solidez financeira”, disse.
Pedro Da Matta, CEO da Audax Capital, reforça que a atratividade do crédito estruturado tende a crescer. “O mercado trabalha com a expectativa de que o Copom siga com a Selic em 15%. Isso significa carrego elevado, mas também seletividade mais forte dos investidores”, destacou.
Quais os impactos da Selic no crescimento e na inflação?
De acordo com Pedro Ros, CEO da Referência Capital, o cenário aponta para um equilíbrio entre estabilidade monetária e crescimento moderado. “A expectativa é de que o Copom mantenha a Selic em 15%, reforçando o compromisso com o controle inflacionário e dando ao investidor previsibilidade em um ambiente ainda desafiador”, afirmou.
O Boletim Focus projeta inflação de 4,83% em 2025, ainda acima do centro da meta, e PIB em 2,16%, sinalizando expansão moderada da economia. O câmbio, previsto em R$ 5,50, favorece exportadores e setores conectados ao mercado global.
Nesse sentido, Volnei Eyng, CEO da Multiplike, avalia que a manutenção da Selic em 15% prolonga os desafios para consumo e crédito, mas abre espaço para um ciclo gradual de flexibilização a partir de 2026. “O destaque é a queda da Selic para 12,38% depois de 32 semanas de estabilidade, o que tende a animar o mercado financeiro, estimular novos investimentos e baratear financiamentos”, afirmou.
O que esperar dos próximos trimestres?
André Matos, CEO da MA7 Negócios, interpreta os dados como um “alívio moderado”. Segundo ele, o investidor deve combinar aplicações em títulos pós-fixados com posições em ativos indexados à inflação. “Em bom português: inflação escorregando devagar, atividade sem fôlego extra e juros ainda altos por mais tempo”, disse.
Já Antonio Patrus, diretor da Bossa Invest, destacou os impactos sobre startups e inovação. “Esse descompasso entre desinflação lenta e juros elevados prolonga o custo de capital em todo o sistema produtivo. Para o ecossistema de inovação, o impacto é direto: rodadas de captação ficam mais seletivas, e os investidores priorizam startups que já provaram tração e eficiência operacional”, avaliou.
Nesse ambiente, João Kepler, CEO da Equity Group, afirma que apenas empresas com fundamentos sólidos terão vantagem. “Startups com unit economics consistentes e governança terão vantagem. O mercado deve migrar para teses com payback mais curto e líderes que saibam executar”, analisou.
Como os setores devem reagir?
De acordo com Jorge Kotz, CEO do Grupo X, o ambiente atual exige disciplina de gestão. “Com Selic a 15% e IPCA em 4,83%, o juro real segue alto; isso exige processos, orçamento base zero e governança de capital de giro”, pontuou.
Para Carlos Braga Monteiro, CEO do Grupo Studio, setores defensivos e exportadores tendem a se destacar, enquanto varejo e consumo continuam pressionados. “O recado é de desinflação lenta e economia moderada, o que deve manter o mercado cauteloso”, afirmou.
Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, avalia que a manutenção da Selic no topo do ciclo gera alívio para os prazos de investimento. “A percepção de que os juros já estão em patamar ‘topo de ciclo’ permite ajustar prazos de investimento com mais otimismo, especialmente em setores como varejo e construção civil”, explicou.