Por Carlos Castro*
A indústria das apostas esportivas — ou bets, como foram rebatizadas para parecer modernas e inofensivas — se tornou um dos maiores parasitas emocionais e financeiros do nosso tempo. Ela veste a camisa do entretenimento, mas joga com as fraquezas humanas: impulsividade, busca de recompensa imediata e a ilusão de que controle é o mesmo que sorte.
Nos últimos anos, as bets deixaram de ser uma prática de nicho para virar uma epidemia digital. Estão nos intervalos dos jogos, no feed do Instagram, nas camisas dos times, nos stories dos influenciadores. E o mais preocupante: estão entrando na mente de jovens que mal abriram uma conta bancária e já estão aprendendo a perder dinheiro todos os dias achando que estão “investindo com estratégia”.
O impacto é brutal. Psicologicamente, o ciclo é o mesmo de qualquer vício comportamental: ansiedade, compulsão, arrependimento e recaída. O transtorno do jogo já é uma das novas demandas críticas de saúde mental no Brasil. E como todo vício, ele começa com uma aposta pequena, quase inofensiva, até que vira rotina. A mente do apostador em fase avançada não gira em torno do prazer, mas de desespero disfarçado de esperança.
Financeiramente, o estrago vem em silêncio. A pessoa não percebe que está perdendo o que tem — e o que ainda vai perder. Vira dívida no cartão, empréstimo no banco, uso do limite como “última chance de recuperar”. Só que essa chance nunca vem. O jogo é projetado para que a casa sempre vença. O apostador perde dinheiro, perde o senso de valor do próprio trabalho. O esforço diário se torna irrelevante diante da “oportunidade” de um retorno rápido — e ilusório.
E como se sai disso?
O primeiro passo é aceitar o fato de que não dá para vencer um sistema que lucra com a sua derrota. A aposta mais inteligente é sair do jogo.
Cortar o acesso, excluir aplicativos, bloquear sites, cancelar contas. Mas isso é só o começo. É preciso preencher o vazio que o hábito deixou. Isso envolve apoio terapêutico, reeducação financeira, reconstrução de disciplina e um plano claro para retomar o controle da vida. Não há enriquecimento sem domínio emocional. E não há domínio emocional enquanto você entrega sua autoestima ao resultado de um jogo que nunca foi feito para você ganhar.
Também é urgente parar de romantizar os famosos que estampam propagandas das bets como exemplos de sucesso. Isso é marketing de quem lucra com a sua falência.
Sorte é quando a oportunidade encontra o trabalho. É nisso que deveríamos apostar.
*Coluna escrita por Carlos Castro, planejador financeiro pessoal, CEO e sócio fundador da plataforma de saúde financeira SuperRico
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