O Boletim Focus, divulgado pelo Banco Central nesta segunda-feira (15), mostrou nova redução na expectativa para o IPCA de 2025, que passou de 4,85% para 4,83%. O movimento reforça o impacto do aperto monetário conduzido pelo Copom nas expectativas de inflação, especialmente no horizonte mais longo. Ao mesmo tempo, a mediana para 2028 se manteve em 3,70%, após uma queda de 10 pontos-base na leitura anterior, indicando estabilidade momentânea.
Segundo análise do economista Maykon Douglas, a leitura do mercado sinaliza que a trajetória de queda da inflação não é linear, mas ainda aponta efeitos relevantes das condições monetárias. “O consenso para 2027 caiu pela quarta semana seguida, mostrando que o aperto promovido pelo Copom continua sendo assimilado pelo mercado nas projeções mais longas”, avaliou.
Focus: o que explica a queda nas expectativas de inflação?
Além do comportamento da política monetária, outro fator decisivo foi o câmbio. A mediana para a taxa de câmbio em 2025 caiu para R$ 5,50, registrando a quarta semana consecutiva de queda. O real tem se beneficiado do ambiente internacional e do diferencial de juros em relação ao dólar, que tende a se ampliar com os cortes esperados do Federal Reserve.
De acordo com Maykon Douglas, o câmbio encerrou a última semana no menor patamar em 15 meses. A expectativa é de que a tendência de depreciação global do dólar se mantenha, sobretudo diante da perspectiva de novos cortes nas fed funds por conta do enfraquecimento do mercado de trabalho nos Estados Unidos. Com isso, projeta um câmbio à R$ R$ 5,49 . “Esse diferencial favorece o real, mas o cenário ainda depende da reação do governo Trump após a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro pelo STF”, ponderou.
Como ficam as projeções de juros?
O consenso para a taxa Selic em 2026 recuou de 12,50% para 12,38%. No entanto, esse movimento foi interpretado como efeito pontual. O próprio Focus mostrou que a métrica referente aos últimos cinco dias úteis permaneceu em 12,50%, sinal de que o corte não reflete uma mudança de percepção estrutural.
Segundo Douglas, esse tipo de oscilação é comum em semanas de coleta mais intensa. “Na última sexta-feira houve maior número de respondentes, o que altera as medianas de forma mais significativa. A princípio, não há sinal de revisão estrutural na projeção de juros”, explicou.
O Copom deve mudar sua comunicação?
A reunião do Copom marcada para esta quarta-feira (17) deve manter a comunicação inalterada, com reforço na estratégia de juros elevados por um período prolongado. Essa linha tem sido considerada fundamental para consolidar a ancoragem das expectativas, mesmo em um cenário de pressões políticas e fiscais.
Para Maykon Douglas, a postura do comitê continuará firme. “O Copom deve reiterar a necessidade de taxas elevadas até que haja segurança quanto ao processo desinflacionário. Por isso, considero que o movimento observado hoje no Focus foi mais pontual do que estrutural”, destacou.
Principais pontos observados no Focus
- IPCA 2025: caiu de 4,85% para 4,83%;
- IPCA 2027: reduziu pela quarta semana consecutiva, de 3,93% para 3,90%;
- IPCA 2028: manteve-se em 3,70% após queda na leitura anterior;
- Câmbio 2025: passou de R$ 5,55 para R$ 5,50/US$;
- Selic 2026: ajustada para 12,38%, mas métrica curta ainda em 12,50%.
Com esses números, o mercado reforça a leitura de que a condução da política monetária segue como principal elemento de ancoragem das expectativas. No entanto, a evolução do câmbio e o ambiente político continuarão no radar dos investidores nos próximos meses.