O Supremo Tribunal Federal (STF) retomou nesta terça-feira (9) o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e outros sete réus. O relator do caso, ministro Alexandre de Moraes, abriu a sessão com a leitura de seu voto, seguido por Flávio Dino, Luiz Fux, Cármen Lúcia e Cristiano Zanin. A expectativa é de que o julgamento se estenda até sexta-feira, com sessões extras para garantir ritmo ao processo.
No centro da análise estão cinco crimes atribuídos a Bolsonaro e seus aliados, além da avaliação sobre a delação de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens, apontada como elemento central pela acusação. O STF encara esta fase como decisiva para definir o grau de responsabilidade de cada envolvido e as consequências jurídicas que podem alterar o cenário político e eleitoral do país.
Quais são os crimes em análise no julgamento de Bolsonaro?
Os ministros da Primeira Turma avaliam cinco acusações que pesam contra Bolsonaro e demais réus. Entre elas, estão crimes considerados graves no âmbito democrático e patrimonial:
- Tentativa de golpe de Estado
- Organização criminosa armada
- Abolição violenta do Estado Democrático de Direito
- Dano qualificado
- Deterioração de patrimônio tombado
A defesa sustenta que alguns desses crimes deveriam ser absorvidos por outros, tese que, se acatada, pode reduzir significativamente as penas. Essa discussão jurídica sobre a cumulação de crimes é vista como um dos pontos-chave do julgamento.
O papel da delação de Mauro Cid no julgamento de Bolsonaro
Outro aspecto central é a delação premiada de Mauro Cid. Embora considerada peça fundamental pela acusação, o documento enfrenta resistência dentro da Corte. O ministro Luiz Fux, por exemplo, questionou a consistência dos depoimentos, apontando contradições que podem enfraquecer a narrativa acusatória. Ainda assim, o relator Alexandre de Moraes reforçou que não haverá espaço para impunidade, ressaltando que crimes contra a democracia exigem respostas firmes e proporcionais.
Pressões externas e tensões internas
Enquanto o julgamento avança, fatores externos também influenciam o clima no Supremo. O governo de Donald Trump, nos Estados Unidos, tem pressionado por moderação nas sentenças, movimento que gera desconforto entre ministros. A tendência majoritária, no entanto, aponta para a manutenção de uma linha de rigor, com o objetivo de preservar a integridade das instituições democráticas brasileiras.
O desfecho do julgamento pode levar a três possíveis cenários para Bolsonaro:
- Absolvição, caso a maioria dos ministros não reconheça as acusações.
- Condenação com prisão, que pode ultrapassar oito anos de pena, exigindo regime fechado. A defesa, no entanto, deve pleitear prisão domiciliar por motivos de idade e saúde.
- Reforço da inelegibilidade já determinada pelo TSE, o que ampliaria o tempo de afastamento do ex-presidente das disputas eleitorais.
A depender da interpretação dos ministros sobre a cumulação de crimes, a soma das condenações pode chegar a 43 anos. Esse cenário representaria uma consequência política ainda mais severa, já que estenderia o período de inelegibilidade e afastaria Bolsonaro das próximas eleições por tempo indeterminado.
E os aliados, o que podem enfrentar?
Além de Bolsonaro, aliados próximos como Braga Netto e Anderson Torres também estão no centro das discussões. Suas penas devem variar de acordo com o grau de envolvimento atribuído a cada um no suposto plano golpista. Essa diferenciação será essencial para definir se a Corte seguirá uma linha de julgamento coletiva ou se individualizará as responsabilidades.
Independentemente do resultado final, o julgamento já marca um ponto de inflexão na política brasileira. Para o Supremo, manter o rigor é uma forma de reafirmar a proteção ao Estado Democrático de Direito, diante de ataques à democracia. Para a sociedade, o desfecho pode redefinir não apenas o futuro político de Bolsonaro, mas também o tom da relação entre Judiciário e Executivo.
Mercado de olho no julgamento de Bolsonaro
Para Everton Dias, economista-chefe da Legado Investimentos, avalia que o julgamento de Bolsonaro, somado à votação da anistia no Congresso, pode prolongar a insegurança institucional e trazer maior volatilidade ao mercado nos próximos meses. Segundo Dias, ainda que o Congresso aprove a anistia, a tendência é de judicialização e posterior veto no STF, o que reforça a percepção de instabilidade. “Esse impasse político acaba influenciando expectativas para 2026, já que novos atores começam a se posicionar no vácuo deixado por Bolsonaro, enquanto o mercado precifica riscos adicionais com possíveis retaliações comerciais dos Estados Unidos e as negociações do governo Lula no BRICS”, observa.