O choque entre STF e Congresso voltou ao centro do debate com a anistia de 8 de janeiro e o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, mas um vetor silencioso dessa disputa é o IOF, imposto que funciona como ferramenta regulatória e arrecadatória do governo. Segundo o economista Miguel Daoud, essa tensão não deve se prolongar indefinidamente, porque “os atores políticos precisarão encontrar seus próprios caminhos rumo às eleições de 2026”. Além disso, a previsibilidade em torno do IOF tende a ser peça-chave para reduzir ruídos fiscais e estabilizar expectativas.
Nesse sentido, a discussão não é apenas jurídica ou eleitoral: ela repercute diretamente na economia real via crédito, câmbio, seguros e investimentos, bases sobre as quais o IOF incide. Por outro lado, a manutenção de incertezas pode encarecer o custo de capital e atrasar decisões corporativas. Daoud sugere que, apesar do desgaste, a política precisará sair da polarização e voltar-se a propostas concretas, movimento que, se incluir diretrizes claras para o IOF, pode melhorar o humor dos mercados e a ancoragem das expectativas até 2026.
Qual é o papel do IOF nessa disputa institucional?
O IOF historicamente tem dupla função: regular o ritmo de certas operações financeiras (crédito, câmbio, seguros, títulos) e gerar receita de curto prazo. Enquanto isso, a tensão entre Poderes pode afetar a previsibilidade de como esse instrumento será usado. Regras claras sobre a governança do IOF, quando, como e por que alterar alíquotas, tendem a reduzir choques e facilitar o planejamento de bancos, empresas e investidores.
Além disso, debates sobre limites e competências (Executivo, Legislativo e controle judicial) impactam a credibilidade do arcabouço fiscal. Um caminho institucional mais estável permitiria que mudanças de IOF fossem vistas como ajustes técnicos, e não como sinais de improviso. Isso minimiza volatilidade, melhora a leitura do risco-país e ajuda a coordenar expectativas de inflação e juros.
Qual é a perspectiva para a economia com foco no IOF?
O cenário econômico brasileiro responde rapidamente a incertezas políticas, e o IOF é parte sensível desse tabuleiro. Daoud destaca que a atual tensão pode atingir política fiscal e, por consequência, a inclinação da curva de juros. Nesse sentido, previsibilidade do IOF, especialmente em crédito e câmbio, favorece o investimento produtivo e o apetite por risco.
Se líderes políticos buscarem estabilizar suas bases eleitorais e reduzir o uso errático de instrumentos tributários de curto prazo, o investimento tende a reagir positivamente. Por outro lado, alterações frequentes ou mal comunicadas do IOF podem encarecer operações financeiras, afetar o consumo, pressionar o custo de capital e gerar cautela em decisões de expansão.
Quais serão os impactos nas taxas de juros?
As taxas de juros refletem não só a inflação corrente, mas também o risco institucional e fiscal. Com um uso mais previsível do IOF e uma política fiscal mais responsável, diminui a pressão para que o Banco Central eleve juros por razões não inflacionárias. “A expectativa é que a inflação se mantenha sob controle, permitindo ao Banco Central uma margem de manobra para manter as taxas em níveis mais baixos”, explica Daoud.
Além disso, sinais de moderação no IOF sobre operações de crédito podem aliviar o custo ao consumidor e às empresas, reforçando a transmissão da política monetária. Por outro lado, aumentos abruptos do imposto em câmbio ou crédito tendem a endurecer as condições financeiras e a postergar decisões de investimento.
Como os investidores devem se preparar?
Em tempos de incerteza institucional, a disciplina estratégica importa. Daoud sugere ajustar carteiras à luz de um possível arrefecimento da tensão e de maior previsibilidade no uso do IOF. Nesse sentido, setores com projetos de longo prazo e alta sensibilidade a custo de capital, como infraestrutura e tecnologia, podem se beneficiar de um ciclo de juros mais benigno e de menor ruído tributário.
- Reavaliar o portfólio: calibrar exposição a crédito, câmbio e setores intensivos em capital.
- Focar em setores resilientes: infraestrutura, tecnologia, exportadoras e nomes com balanços sólidos.
- Monitorar IOF, fiscal e monetária: mapear como ajustes de IOF afetam custo de financiamento e fluxo de capitais.
- Manter diálogo com especialistas: consultores financeiros e tributaristas ajudam a antecipar cenários.
IOF na prática: o que observar nos próximos meses?
Para reduzir surpresas, investidores e empresas podem acompanhar alguns pontos operacionais e de comunicação de política econômica:
- Eventuais mudanças de alíquotas do IOF sobre crédito, câmbio e seguros, e sua justificativa técnica.
- A sinalização do Executivo sobre critérios e horizonte de uso do IOF como instrumento regulatório, não apenas arrecadatório.
- A interação entre STF e Congresso em matérias tributárias sensíveis, buscando segurança jurídica.
- A coerência com o arcabouço fiscal para evitar percepções de ajuste de curto prazo sem plano de médio prazo.
Caminhos para o futuro com o IOF no radar
No balanço, Daoud projeta que, apesar do desgaste entre os Poderes, “não haverá agravamento institucional”. Se esse diagnóstico se confirmar, a tendência é a política abandonar a lógica da polarização e convergir para soluções que emprestem previsibilidade ao uso do IOF e demais instrumentos fiscais. Além disso, um ambiente mais estável reforça a leitura de inflação sob controle, abre espaço para juros mais baixos e melhora o apetite ao risco.
Por fim, a análise cuidadosa do cenário político, com atenção aos desdobramentos sobre o IOF, será essencial para investidores e empresas definirem estratégias até 2026. Enquanto isso, transparência, governança e comunicação técnica sobre mudanças de IOF podem reduzir ruídos, sustentar o investimento e apoiar a retomada do crescimento com previsibilidade.