A discussão sobre as tarifas impostas pelos Estados Unidos continua a movimentar analistas e economistas. Em entrevista, o gestor Scott Bessent afirmou acreditar na constitucionalidade da medida, mas reconheceu que a decisão final da Suprema Corte será determinante. Caso o tribunal considere as tarifas inconstitucionais, Bessent admite que será necessário adotar um plano B ou até mesmo um plano C para manter a política comercial.
Esse ambiente de incerteza preocupa os mercados e afeta diretamente o planejamento das empresas. O economista Bruno Corano destacou que, diante de um cenário de instabilidade regulatória, “não importa se a tarifa é de 100% ou de 1%, a indefinição é desconfortável e muito ruim”. Para ele, a falta de clareza sobre os rumos da política tarifária compromete as estratégias de importadores e exportadores em todo o mundo.
Como a falta de definição sobre tarifas nos EUA impacta o comércio global?
A indefinição jurídica cria o que analistas já chamam de um “limbo tarifário”. Nesse cenário, países que já firmaram acordos, aqueles em negociação e até os que sofrem tarifas mais pesadas enfrentam dificuldades semelhantes: a ausência de previsibilidade. Isso gera um efeito dominó no comércio internacional, prejudicando decisões de investimento e encarecendo custos de produção.
Segundo Corano, a imprevisibilidade leva empresas a postergar decisões estratégicas. “Como é que uma companhia vai decidir se importa da China, da Índia, do Brasil ou da Turquia se a cada momento há uma tarifa diferente? Esse ambiente de bagunça tarifária mina a confiança e eleva o risco do comércio global”.
Além disso, a demora da Suprema Corte em julgar definitivamente o tema adiciona complexidade. Embora já tenha suspendido os efeitos imediatos, o julgamento ainda pode levar meses, deixando empresas e governos em compasso de espera.
Quais os riscos das tarifas para o Brasil?
No caso brasileiro, o impacto das tarifas norte-americanas é particularmente sensível em setores como agronegócio, aço e manufaturados. A dependência das exportações para os EUA torna o país vulnerável a mudanças repentinas nas regras do jogo. Corano ressalta que, enquanto a decisão não é tomada, resta ao Brasil “articular o máximo possível para contemporizar esse aumento das tarifas e buscar alternativas de negociação”.
Essa situação reforça a necessidade de uma estratégia diversificada de comércio exterior. Depender excessivamente de um único mercado expõe a economia a riscos desproporcionais, especialmente em períodos de incerteza jurídica e política.
Quais caminhos o Executivo pode adotar?
Especialistas lembram que, caso a Suprema Corte derrube a atual forma de aplicação das tarifas, o Executivo americano terá pouca margem para adotar novos mecanismos. “Os juristas aqui dizem que, caso a Corte derrube, a deliberação já será ampla o suficiente para impedir que o governo tente usar outros artifícios”, observou Bessent.
Isso significaria uma vitória parcial para os países afetados, mas não elimina a possibilidade de novas disputas comerciais. Nesse contexto, governos e empresas precisam acompanhar de perto os desdobramentos legais e preparar estratégias alternativas de médio e longo prazo.
O que esperar daqui para frente com Estados Unidos no radar?
Enquanto o caso permanece em análise, os próximos meses serão de expectativa. Para analistas, três pontos centrais devem ser observados:
- Decisão da Suprema Corte: definirá o alcance e a validade das tarifas aplicadas.
- Reações do Executivo: mesmo com restrições legais, o governo pode buscar alternativas comerciais.
- Impacto nos parceiros: países como o Brasil precisarão avaliar o custo de permanecer dependentes do mercado americano.
Por ora, o comércio internacional segue pressionado pela incerteza. Como destacou Bruno Corano, “é muito ruim que empresas e governos estejam sujeitos a esse ambiente, em que cada decisão judicial ou executiva pode mudar completamente o cenário econômico”. Nesse sentido, o desafio do Brasil será equilibrar negociações bilaterais com uma agenda de diversificação de mercados para mitigar riscos futuros.