O Mercado Livre anunciou sua entrada no segmento farmacêutico com a aquisição da farmácia Cuidamos Farma, localizada no bairro do Jabaquara, em São Paulo, por meio da subsidiária K2i Intermediação, ligada à Kangu. A operação, que marca a estreia formal do grupo no setor de medicamentos, foi acompanhada de uma movimentação estratégica, uma parceria com a Memed, plataforma digital de prescrição médica controlada pela DNA Capital.
A transação reforça a estratégia da companhia em diversificar seu ecossistema, criando novas portas de fidelização de clientes. Mais do que a simples comercialização de medicamentos, o foco é integrar dados de prescrição ao modelo de negócios, transformando o remédio em uma ferramenta de inteligência comercial dentro do ecossistema do e-commerce.
Por que o Mercado Livre escolheu esse caminho?
Segundo Acilio Marinello, fundador da Essentia Consulting, a entrada do Mercado Livre no setor farmacêutico não enfrenta as mesmas barreiras regulatórias que supermercados encontram ao vender medicamentos. Isso porque a empresa comprou uma farmácia, o que garante legitimidade à operação, tal como já ocorre com redes como Ultrafarma ou Raia Drogasil.
Para Marinello, o diferencial está no uso da Memed, que conecta mais de 200 mil médicos e funciona como uma plataforma de prescrição digital. “O Mercado Livre não vai apenas saber que eu tomo o remédio X, mas que o médico prescreve esse remédio para mim. Isso cria uma oportunidade de fidelizar clientes a partir da inteligência de dados”, afirmou o consultor.
Como funciona a estratégia de fidelização?
A lógica é simples, a partir do momento em que o cliente passa a adquirir medicamentos pelo Mercado Livre, abre-se espaço para oferecer outros serviços e produtos do ecossistema. Dessa forma, medicamentos de uso contínuo tornam-se porta de entrada para fidelização de consumidores.
- Ofertas personalizadas de medicamentos recorrentes
- Integração com o cartão Mercado Pago
- Expansão da oferta de produtos 1P e 3P
- Maior conhecimento dos hábitos de consumo dos clientes
“Eles não querem ganhar dinheiro com remédio. O objetivo é ampliar a base de clientes, conhecer melhor seus hábitos e fidelizá-los a todo o ecossistema da companhia”, destacou Marinello.
Mercado Livre no setor farmacêutico: os impactos no setor?
A aquisição da Cuidamos Farma e a parceria com a Memed posicionam o Mercado Livre em rota de concorrência com grandes redes farmacêuticas, como Raia Drogasil e Pague Menos. Com um mercado estimado em mais de R$ 230 bilhões por ano no Brasil, o setor farmacêutico é considerado um dos mais promissores em termos de digitalização e integração com e-commerce.
Além disso, a compra fortalece a estratégia logística. A operação é complementar à aquisição da Kangu, em 2021, permitindo maior capilaridade na distribuição e rapidez nas entregas, especialmente em áreas urbanas. Isso consolida o posicionamento da companhia como líder em soluções integradas de varejo digital.
O que esperar do futuro?
A análise indica que a movimentação é apenas o primeiro passo de um projeto maior. O remédio funciona como porta de entrada para novos públicos e, principalmente, como fonte de inteligência para o uso de dados. Combinando logística, plataforma de pagamentos e marketplace, o Mercado Livre reforça sua ambição de se consolidar como ecossistema completo.
Para Marinello, a grande sacada é transformar medicamentos em alavanca de fidelização. “O remédio vai dar acesso a um cliente que talvez hoje não esteja dentro do Mercado Livre. A partir daí, é possível ofertar todo o portfólio de serviços e produtos da empresa, criando um vínculo muito mais duradouro”, concluiu.
A entrada no setor farmacêutico mostra que o Mercado Livre não apenas diversifica negócios, mas redefine a forma de usar inteligência de dados para fidelizar clientes. O resultado pode ser uma transformação estrutural na relação entre saúde digital e varejo no Brasil.