O mercado financeiro voltou a revisar para baixo as expectativas de inflação, conforme o Relatório Focus divulgado pelo Banco Central nesta segunda-feira (1º). A mediana do IPCA para 2025 caiu de 4,86% para 4,85%, marcando a 14ª semana seguida de redução. Para 2026, a projeção passou de 4,33% para 4,31%, e em 2027 recuou de 3,97% para 3,94%. A estimativa para 2028 permaneceu em 3,80%.
Enquanto isso, as projeções para o PIB apresentaram leve alta, de 2,18% para 2,19% em 2025, com ajustes também para 2026 (1,87%) e 2027 (1,89%). Já no câmbio, as expectativas apontaram queda, passando de R$ 5,59 para R$ 5,56 em 2025. Para os anos seguintes, a trajetória também foi revisada para baixo. No caso da Selic, a mediana permaneceu em 15% para 2025, sem alterações há dez semanas.
Por que o IGP-M voltou a subir após tantas quedas no Focus?
Se por um lado o IPCA manteve trajetória de queda, o IGP-M mostrou movimento contrário. A projeção para 2025 subiu de 1,04% para 1,14%, interrompendo uma sequência de 15 semanas consecutivas de queda. Para 2026, a expectativa recuou de 4,27% para 4,23%, enquanto para 2027 e 2028 as projeções permaneceram estáveis em 4% e 3,98%, respectivamente.
De acordo com o economista Maykon Douglas, esse avanço pontual parece ser apenas um “ajuste fino” em resposta aos números de agosto. “Houve uma surpresa altista no IPCA-15 cheio e uma deflação pontual em energia elétrica. No caso do IGP-M, a alta da mediana reflete mais uma correção técnica do que uma mudança de tendência. Vale lembrar que a mediana caiu quase 4,5 pontos percentuais desde março, muito em função da depreciação do dólar”, explicou.
Expectativas detalhadas para 2025 e anos seguintes, segundo o Focus
O Relatório Focus também trouxe as seguintes projeções:

- IPCA: 4,85% em 2025, 4,31% em 2026, 3,94% em 2027 e 3,80% em 2028.
- IGP-M: 1,14% em 2025, 4,23% em 2026, 4% em 2027 e 3,98% em 2028.
- Câmbio: R$ 5,56 em 2025, R$ 5,62 em 2026, R$ 5,62 em 2027 e R$ 5,60 em 2028.
- PIB: 2,19% em 2025, 1,87% em 2026, 1,89% em 2027 e 2% em 2028.
- Selic: 15% em 2025, 12,50% em 2026, 10,50% em 2027 e 10% em 2028.
Qual o impacto para a política monetária?
Segundo Maykon Douglas, a queda conjunta das expectativas para o IPCA entre 2025 e 2027 é um sinal importante de reancoragem inflacionária. “O processo de desinflação está em curso, embora ainda falte uma contribuição mais consistente dos núcleos de serviços, que voltaram a acelerar no IPCA-15 de agosto. Ainda assim, o movimento atinge os horizontes mais longos, justamente onde o Copom concentra sua análise”, destacou.
Além disso, o economista avaliou que a manutenção da Selic em patamar elevado é parte fundamental dessa estratégia. “A política monetária precisa seguir cautelosa. A reancoragem das expectativas ocorre, mas o processo ainda não está consolidado. O Banco Central deve permanecer vigilante para garantir que a desinflação amadureça sem riscos adicionais”, afirmou.
Por outro lado, o cenário fiscal e a trajetória do câmbio continuam sendo variáveis relevantes para o mercado. A queda nas projeções do dólar ajuda a suavizar pressões inflacionárias, mas a incerteza política e fiscal pode voltar a pesar nas expectativas futuras. Nesse sentido, os dados de inflação dos próximos meses, em especial sobre serviços, serão determinantes para orientar a política de juros.
Enquanto isso, o comportamento do PIB sugere uma economia em ritmo moderado de expansão. A estabilidade da projeção de 2% para 2028, mantida há 77 semanas, reforça a leitura de que o crescimento tende a ser gradual, sem acelerações bruscas.
No geral, o Relatório Focus desta semana sinaliza uma combinação de desinflação persistente, cautela monetária e ajuste pontual nas expectativas de preços. A avaliação de Maykon Douglas reforça que o Copom deve manter prudência nas próximas decisões, de modo a consolidar o processo de reancoragem inflacionária e evitar surpresas vindas dos setores mais sensíveis da economia.