No podcast Papo de Dinheiro, o head de análise da Levante, Enrico Cozzolino, compartilhou reflexões sobre educação financeira, comportamento e mentalidade no mercado. Autor do livro Filho Rico de Pai Pobre, ele destacou que decisões financeiras vão muito além de cálculos e produtos de investimento: envolvem consciência, disciplina e aprendizado constante.
Cozzolino ressaltou que, em um país carente de educação financeira, muitas pessoas já investem sem conhecer conceitos básicos como inflação, taxa de juros e risco. Para ele, isso pode ser ainda mais perigoso do que não investir, já que decisões equivocadas comprometem a construção de patrimônio no longo prazo. “Não é raro ver pessoas que usam derivativos ou compram ações sem sequer compreender os fundamentos de uma carteira bem estruturada”, afirmou.
Como a mentalidade influencia o sucesso financeiro?
Um dos principais pontos abordados foi a diferença entre a mentalidade de abundância e a mentalidade de escassez. Cozzolino contou histórias pessoais e familiares para ilustrar como experiências de vida, como traumas da guerra vividos por seus avós, moldam a forma como lidamos com o dinheiro. “A escassez pode levar à prudência, mas também ao medo excessivo de investir. Já a abundância, se mal compreendida, pode estimular riscos desnecessários”, explicou.
Nesse sentido, ele defendeu a importância de identificar padrões herdados e decidir o que será transmitido às próximas gerações. Segundo o analista, a mentalidade financeira deve ser construída com base no equilíbrio entre ousadia e prudência, ajustada ao contexto pessoal de cada investidor.
Erros, aprendizados e autorresponsabilidade
Cozzolino compartilhou um episódio marcante de sua carreira: durante a crise do subprime, em 2008, perdeu em um único dia o equivalente a seis meses de ganhos em derivativos. A experiência foi decisiva para compreender a importância de se preparar para eventos raros e de alto impacto, conhecidos como “cisnes negros”. “Naquele momento, percebi que não podia colocar a culpa apenas no mercado. Precisava assumir a responsabilidade pelas decisões e aprender com os erros”, destacou.
Para ele, o investidor inteligente não é aquele que nunca erra, mas o que consegue transformar falhas em aprendizado. “O pior cenário é paralisar diante de uma perda. É preciso agir, ajustar a estratégia e seguir em frente”, disse.
Como manter o foco em tempos de crise?
O head de análise da Levante alertou que crises sempre existirão: seja a hiperinflação, a greve dos caminhoneiros, a pandemia ou a atual preocupação com juros elevados. A diferença está em como o investidor reage. “Não dá para deixar o ruído do curto prazo comprometer a visão de longo prazo. É como treinar na academia: você ajusta os exercícios e a alimentação conforme a fase, mas não abandona o plano”, comparou.
Ele reforçou que o segredo não está em buscar cenários perfeitos, mas em ajustar a carteira de investimentos conforme as mudanças do ambiente econômico e da própria vida pessoal. Assim, a resiliência se torna uma habilidade essencial para atravessar turbulências.
O papel da educação financeira no Brasil
Ao longo da entrevista, Cozzolino ressaltou que a falta de educação financeira ainda é um dos grandes entraves ao desenvolvimento econômico do país. Muitas famílias não falam sobre dinheiro em casa, o que perpetua erros de geração em geração. “A disciplina começa em pequenos hábitos, como controlar gastos domésticos. O exemplo é a melhor forma de ensinar”, afirmou.
Além disso, ele chamou atenção para o risco dos modismos financeiros, como apostar todo o auxílio em investimentos de alto risco. “Esse tipo de ousadia é a receita para o fracasso. Por outro lado, deixar o dinheiro parado e perder para a inflação também é um erro. O equilíbrio é fundamental”, disse.
De acordo com Cozzolino, três pontos são essenciais para qualquer pessoa que deseja prosperar financeiramente:
- Reconhecer e aprender com os erros, sem transferir a culpa apenas para o mercado.
- Equilibrar ousadia e prudência, ajustando o risco ao contexto pessoal e econômico.
- Construir uma mentalidade financeira baseada na disciplina, no exemplo e no diálogo familiar.
No encerramento, ele resumiu sua visão de riqueza: “Ser rico não é ter um valor fixo na conta, mas alcançar os objetivos de vida com clareza e consciência. O dinheiro é apenas uma ferramenta para isso”.
A entrevista mostrou que, mais do que estratégias de curto prazo, é a mentalidade que define o futuro financeiro. Como concluiu Cozzolino, prosperar é possível para qualquer pessoa, desde que haja preparo, disciplina e vontade de aprender continuamente.