O avanço das tensões entre Brasil e Estados Unidos, em meio à aplicação da Lei Magnitsky, tem colocado o mercado financeiro brasileiro em uma posição delicada. O economista Écio Costa destacou, em entrevistas à BM&C News, que o setor bancário vive um impasse “entre a cruz e a espada”, diante da necessidade de equilibrar o cumprimento de legislações internacionais e as possíveis retaliações internas.
Segundo ele, caso os bancos não sigam as determinações internacionais, podem enfrentar exclusões de sistemas como o Swift, além de multas bilionárias. Por outro lado, se obedecerem, correm o risco de sofrer sanções do Supremo Tribunal Federal (STF), também com penalizações financeiras significativas. Esse cenário já trouxe reflexos diretos, como a perda de mais de R$ 40 bilhões no valor de mercado dos bancos listados na bolsa.
Como o setor bancário pode reagir?
Écio Costa explica que o ambiente para o setor bancário é de compasso de espera, uma vez que ainda há divergências jurídicas sobre a aplicação da lei. O ministro Flávio Dino sinalizou que legislações internacionais só podem valer no Brasil se estiverem respaldadas em lei nacional, mas outros ministros defendem que a decisão seja colegiada no STF. Enquanto isso, notícias como o bloqueio do cartão internacional do ministro Alexandre de Moraes reforçam o peso das medidas.
Esse quadro gera um desafio adicional: mesmo com o uso de bandeiras nacionais em cartões, as conexões com operações internacionais permanecem, abrindo espaço para possíveis retaliações externas. “A situação impacta diretamente no preço das ações, e exige uma negociação cuidadosa para evitar um efeito ainda mais forte sobre a economia”, afirmou o economista.
O dólar é calmaria antes da tempestade?
Além do setor bancário, outro ponto de atenção é o comportamento do câmbio. Atualmente, o dólar opera próximo a R$ 5,49, em um movimento de estabilidade que, segundo Écio Costa, pode ser apenas momentâneo. “A tendência natural do dólar é de queda, diante da expectativa de redução dos juros nos Estados Unidos e manutenção no Brasil, o que favoreceria o real. Mas os investidores aguardam um desfecho concreto da aplicação da lei Magnitsky”, explicou.
Para o economista, a tensão política é um fator determinante e o setor bancário está no meio do ‘fogo cruzado’. Caso haja retaliações mais duras por parte dos Estados Unidos, especialmente se envolverem setores produtivos ou empresas brasileiras ligadas a negócios americanos, o dólar pode disparar novamente para a faixa dos R$ 6, pressionando ainda mais a economia doméstica.
Qual o risco real de sanções contra o Brasil?
Na visão de Costa, o risco é relevante porque o embate ultrapassa o campo econômico e avança para o político. Ele ressalta que medidas unilaterais ou uma escalada do conflito podem levar Trump e sua administração a ampliar sanções, atingindo ministros, empresas e até setores estratégicos. “Vivemos um momento em que o político impacta diretamente o econômico, e isso tende a se intensificar”, analisou.
Nesse sentido, o Ibovespa também reflete a instabilidade: ora em leve alta, ora em queda, permanece no chamado “0 a 0”. Para Écio Costa, esse movimento mostra a incerteza dos investidores, que preferem esperar definições antes de aumentar exposição ao mercado brasileiro.
O que esperar daqui para frente?
De acordo com o economista, o Brasil precisará adotar uma estratégia clara para evitar um choque de consequências bilaterais. A condução das decisões pelo STF e o diálogo diplomático com os Estados Unidos serão determinantes para evitar que a crise se aprofunde. Enquanto isso, investidores, empresas e principalmente o setor bancário seguem atentos ao desenrolar dos próximos capítulos.
Em resumo, o mercado vive um período de alerta máximo, em que cada decisão jurídica ou política pode redefinir o rumo da economia. Para Écio Costa, a combinação de fatores externos e internos mostra que o Brasil enfrenta não apenas uma crise diplomática, mas também um teste de resiliência para o seu sistema financeiro.