A chegada da inteligência artificial (IA) ao ambiente corporativo tem provocado reações distintas entre gerações. Enquanto os millennials demonstram entusiasmo e abertura para adotar a tecnologia, a geração Z tende a ser mais cautelosa, receosa de que as funções iniciais de carreira sejam as mais ameaçadas pela automação.
De acordo com o psicanalista e mentor Junior Silva, a diferença de postura tem origem no contexto emocional e social de cada geração. “Os millennials já atravessaram várias revoluções tecnológicas e aprenderam que adaptação rápida é sinônimo de sobrevivência e crescimento. Já a geração Z está entrando num mercado onde justamente as funções de entrada, aquelas que dão o primeiro passo na carreira, são as mais ameaçadas pela automação. Isso aciona mecanismos de defesa: insegurança, medo e resistência”, explica.
Como as empresas podem equilibrar essas diferenças?
Nesse sentido, as organizações enfrentam o desafio de unir forças em vez de separar perfis geracionais. Silva que uma estratégia eficiente é promover programas de mentoria cruzada, em que o millennial assume a liderança de projetos-piloto envolvendo IA, e o Gen Z participa como aprendiz ativo. “Isso gera confiança, reduz resistência e cria um ambiente onde a experiência ensina a ousadia, e a prudência garante segurança”, afirma o especialista.
Além disso, esse formato colabora para que a inovação seja construída sobre uma base emocional sólida. A interação entre gerações transforma a divergência inicial em complementaridade, permitindo que a tecnologia avance sem comprometer a sensação de pertencimento e relevância no ambiente de trabalho.
Qual é o papel da confiança na produtividade?
Segundo Junior Silva, a confiança funciona como combustível emocional nas equipes. Quando os colaboradores acreditam que a ferramenta é confiável, a integração flui, os processos são delegados com mais tranquilidade e os resultados surgem com rapidez. Por outro lado, a ausência de confiança ativa o chamado “modo defesa”: retrabalho, excesso de conferência e quebra da colaboração. “Já vi empresas com a mesma tecnologia terem resultados completamente diferentes apenas por causa do nível de confiança das pessoas”, observa o psicanalista.
Enquanto isso, a clareza sobre o uso da IA desempenha papel essencial. Comunicar o que será automatizado e o que continuará humano é uma das formas de reduzir receios, preservar o engajamento e evitar a sensação de que a tecnologia roubará o prazer das tarefas mais valorizadas pelos funcionários.
Que estratégias ajudam a reduzir o medo da substituição pela IA?
O receio de que a IA substitua as funções mais prazerosas do trabalho é uma das principais barreiras emocionais apontadas por Silva. Para reverter essa percepção, ele sugere três passos práticos:
- Oferecer clareza: explicar de forma objetiva o que será automatizado e o que permanecerá sob responsabilidade humana;
- Preservar atividades de maior significado: manter aquelas que dão sentido e prazer ao colaborador;
- Criar ambientes de teste sem pressão: permitir que os profissionais experimentem a IA de forma lúdica e controlada, compreendendo seu papel de apoio.
Ao adotar essas medidas, as empresas ajudam a transformar a IA em uma aliada, e não em uma ameaça, fortalecendo a sensação de controle e diminuindo resistências internas.
Como as métricas de sucesso impactam o engajamento?
Outro ponto central está na definição de objetivos claros. “Quando a mente não sabe qual é o placar que está jogando, entra em estado de frustração ou apatia”, explica Silva. Sem referências de desempenho, o colaborador não compreende se está avançando ou não, e o cérebro humano tende a se proteger evitando se expor, o que compromete o engajamento.
Para evitar esse efeito, práticas de gestão mais transparentes podem fazer a diferença. “Estabelecer o que é considerado bom, ótimo e excelente em cada função, acompanhado de exemplos claros, contribui para alinhar expectativas“, destaca o mentor. Além disso, realizar check-ins semanais permite não apenas monitorar entregas, mas também remover obstáculos e reconhecer avanços concretos. “O reconhecimento verdadeiro ocorre quando o líder enxerga o valor real do que foi entregue, não apenas o esforço dedicado“, conclui.
A insegurança da geração Z pode afetar sua criatividade?
Sim, e de maneira significativa. O especialista explica que a insegurança ativa regiões do cérebro ligadas à autopreservação, reduzindo a capacidade criativa. “Ninguém cria no estado de medo. A performance cai porque a energia mental é direcionada para se proteger e não para inovar”, aponta Silva.
Por outro lado, quando as lideranças investem em segurança psicológica, o cenário muda. Transparência na comunicação, treinamentos direcionados às funções reais do colaborador e reforço constante de que o valor humano vai além do que qualquer tecnologia pode entregar são elementos que restauram a confiança. “Segurança psicológica nasce da clareza e da previsibilidade que o líder consegue transmitir”, resume o psicanalista.
O que esperar do futuro da IA no ambiente de trabalho?
A visão de Junior Silva é de que a IA não substituirá o ser humano, mas transformará a forma como ele atua. Nesse contexto, as empresas que conseguirem unir a ousadia dos millennials à prudência da geração Z estarão mais bem posicionadas para inovar. “O que trava o mercado não é a tecnologia em si, mas a falta de um ambiente regulatório e emocional adaptado”, afirma.
Em conclusão, a chave para o equilíbrio está em compreender que a tecnologia é apenas uma parte da equação. O fator humano, com suas emoções, medos e expectativas, permanece central. Ao alinhar clareza, confiança e reconhecimento, as organizações podem não apenas reduzir resistências, mas também abrir espaço para um ambiente de inovação saudável e sustentável.