Na semana que passou, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva almoçou com o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab. Trata-se do comandante de um partido muito importante para a cena política nacional: congrega o maior número de prefeitos do país, além de deter a quinta maior bancada de deputados e contar com três governadores. Mas Kassab tem uma espécie de superpoder político: sua proximidade com o governador Tarcísio de Freitas, de quem é o principal secretário da administração paulista.
Lula sondou Kassab sobre o futuro do governador e quis saber como se portaria o PSD em 2026. O presidente da sigla deu a resposta de praxe: a preferência de Tarcísio é concorrer à reeleição, praticamente garantida. E que, embora trabalhe pela indicação do governador paranaense Ratinho Jr. para a disputa presidencial, deixaria a porta aberta para um acordo eleitoral a ser feito no ano que vem.
Como todo presidente de partido, o foco de Kassab é trabalhar para aumentar a sua bancada de deputados: está aqui o fator que determina a divisão do bolo do fundo eleitoral, uma bolada que chegou a R$ 4,9 bilhões em 2024. Ele tem tudo para brigar pelas primeira posições no ranking de deputados federais, já que possui 891 prefeituras. Para se ter uma ideia, a maior agremiação brasileira é o PL, que tem 99 deputados, mas elegeu 591 prefeitos no ano passado. Ou seja, é de se esperar que os pessedistas tenham em 2026 uma bancada bem maior que a atual.
Para Kassab, o cenário ideal seria manter Tarcísio em São Paulo, inflar sua presença no Congresso e eventualmente eleger Ratinho para o Planalto. Mas, por enquanto, não descarta o apoio à reeleição de Lula.
Ocorre que boa parte do sucesso do PSD nas eleições municipais e a aceitação tanto de Tarcísio como a de Ratinho (que sofreram nítidos desgastes com o tarifaço de Donald Trump) nas pesquisas de opinião é a insatisfação de uma parte significativa do eleitorado com o governo de Lula.
Desistir de uma candidatura à presidência e apoiar Lula, assim, traria sérios problemas a Kassab junto aos eleitores de centro e de direita. Kassab sabe disso, mas prefere não concorrer a arriscar uma derrota. E o futuro de Lula, que parecia sombrio até julho, ganhou contornos mais positivos com o envolvimento do deputado Eduardo Bolsonaro na costura das sanções tarifárias impostas ao Brasil, com o propósito de pressionar o Executivo e o Judiciário em favor do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Tarcísio aparentemente desanimou-se com os efeitos políticos de sua atuação recente, percebidos no período pós-tarifaço. Mas ele ainda é o candidato preferido do empresariado e do sistema financeiro, com Ratinho e Ronaldo Caiado vindo em seguida.
O governador pode até animar-se novamente a entrar no páreo. Mas, para isso, depende da bênção de Bolsonaro e o apoio do PL. Mas também vai precisar do apoio de Kassab e de uma costura delicada a ser feita com os governadores do Paraná e de Goiás. Por enquanto, Kassab se tornou, juntamente com o ex-presidente Bolsonaro, o articulador que vai definir os rumos da eleição presidencial. Mas até quando ele vai ficar em cima do muro?