O Brasil encerrou julho com o maior número de pedidos de falência desde 2020. Segundo dados da Serasa Experian, o acumulado do primeiro semestre de 2025 registrou aumento de 18,9% nas solicitações, em comparação com o mesmo período do ano passado. O crescimento mais acentuado foi observado no segundo trimestre, com destaque para empresas dos setores do comércio e da indústria, historicamente mais sensíveis às oscilações de crédito, consumo e custo operacional.
O dado acende um alerta sobre a sustentabilidade financeira das empresas brasileiras, especialmente de pequeno e médio porte, que representam a maioria dos requerimentos. A elevação dos juros, o endurecimento das condições de crédito e a desaceleração do consumo interno pressionaram o caixa de companhias que já operam com margens reduzidas. No entanto, para especialistas, o problema vai além do cenário macroeconômico.
Segundo Marcos Pelozato, advogado, contador e especialista em reestruturação empresarial, a maior parte dos empresários que busca ajuda já se encontra em estágio avançado de desorganização financeira e jurídica. “É comum encontrar empresas que não têm controle claro do passivo, não acompanham indicadores básicos e desconhecem alternativas legais para renegociar dívidas. Falta orientação prática e uma cultura de prevenção”, afirma o profissional, que atua há 14 anos em processos de recuperação judicial e reorganização de negócios.
O especialista reforça que ferramentas como mediação com credores, reestruturação societária e programas de compliance financeiro ainda são subutilizadas no ambiente empresarial brasileiro. “A maioria das empresas procura ajuda apenas quando as execuções já se acumulam e as receitas não cobrem mais os custos operacionais. A falência, nesse caso, torna-se quase inevitável”, completa.
No mesmo período, os pedidos de recuperação judicial também registraram alta, o que confirma a pressão crescente sobre a saúde financeira dos negócios. Ainda segundo a Serasa Experian, houve aumento de 26,3% nas solicitações de recuperação nos primeiros seis meses de 2025. O instrumento, previsto na Lei nº 11.101/2005, permite que empresas renegociem dívidas sob supervisão judicial, com o objetivo de manter suas atividades e preservar empregos.
Diante do agravamento do cenário, especialistas defendem a ampliação de programas de capacitação em gestão de crise, voltados a contadores, advogados e empresários. “É preciso criar multiplicadores conscientes e técnicos, capazes de atuar preventivamente. A gestão profissionalizada não é mais uma escolha, mas sim uma necessidade para a sobrevivência empresarial”, conclui Pelozato.
Com o avanço dos pedidos de falência e recuperação, o segundo semestre deve seguir pressionado, sobretudo se não houver mudanças significativas nas condições de crédito. A expectativa é que, sem medidas estruturantes, o índice de insolvência empresarial continue crescendo e especialmente entre empresas com baixa maturidade de gestão.
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