A reunião realizada nesta segunda-feira (18), em Washington, reuniu Donald Trump, Volodymyr Zelenskyy e líderes europeus em uma tentativa de encontrar saídas para o conflito entre Rússia e Ucrânia. O encontro foi considerado um dos mais relevantes do ano, marcando um ponto de inflexão para a diplomacia ocidental. Apesar de não ter resultado em um acordo imediato, abriu espaço para avanços em negociações futuras.
O clima foi descrito como mais cordial do que em reuniões anteriores. Trump afirmou que “duas partes estão dispostas a negociar” e sugeriu que, em até duas semanas, pode haver maior clareza sobre o processo. Entre as propostas, destacaram-se garantias de segurança, ainda que sem a ser via OTAN, e a possibilidade de uma cúpula trilateral com Putin. Por outro lado, a questão territorial permaneceu como o principal ponto de divergência.
Na manhã desta terça-feira, Trump afirmou que os líderes europeus, França, Alemanha e Reino Unido, defendem a presença de tropas em solo ucraniano para acelerar o fim da guerra entre Rússia e Ucrânia. O presidente norte-americano destacou ainda que “Zelensky também precisa mostrar flexibilidade” e reiterou que haverá algum tipo de garantia de segurança, mas “não pode ser a OTAN”. Trump acrescentou que Putin atendeu “alegremente” sua ligação e que “Ucrânia sempre foi uma barreira entre a Rússia e a Europa”.
Fim da Guerra da Ucrânia?
As discussões em Washington abordaram quatro eixos principais:
- Garantias de segurança: Trump sugeriu um modelo inspirado no artigo 5 da OTAN, porém sem adesão plena da Ucrânia.
- Cessar-fogo: Trump minimizou a urgência; europeus e ucranianos reforçaram ser essencial.
- Território: Trump defendeu concessões em Donbas e Crimeia; Zelenskyy rejeitou.
- Cúpula trilateral: possibilidade de encontro com Putin, condicionada a compromissos mínimos de defesa.
Enquanto Trump defendeu a pragmática troca de territórios como caminho para encerrar a guerra, Zelenskyy reafirmou que a integridade da Ucrânia não está em negociação. Já os líderes da União Europeia mostraram alinhamento com a posição ucraniana, com Emmanuel Macron sugerindo uma força europeia de estabilização e Friedrich Merz reforçando a pressão diplomática sobre Moscou.
Impactos econômicos de uma possível paz na Ucrânia
No campo econômico, especialistas apontam que um eventual acordo entre Rússia e Ucrânia pode reduzir pressões sobre cadeias globais de alimentos e energia. Gustavo Assis, CEO da Asset Bank, destacou que a normalização traria reflexos para a inflação brasileira. “Com cadeias globais de suprimentos mais estáveis e insumos agrícolas menos pressionados, há espaço para custos domésticos ficarem mais previsíveis no curto prazo”, afirmou.
Além disso, a confiança empresarial tende a se beneficiar em um ambiente mais previsível. Jorge Kotz, CEO da Holding Grupo X, ressaltou que “mercados mais previsíveis reduzem custos de capital e abrem espaço para empresas ampliarem estratégias de crédito e expansão”. Para ele, setores dependentes de cadeias internacionais sentirão alívio imediato.
Sidney Lima, analista CNPI da Ouro Preto Investimentos, avaliou que os mercados podem reagir de forma seletiva dependendo da robustez do acordo. “O mercado está operando com expectativa cautelosa de que o avanço nas negociações possa desencadear um ‘risk-on’: isso deve favorecer bancos, mineração, infraestrutura, telecom e os títulos ucranianos, enquanto setores de defesa e petróleo devem acomodar-se. Mas tudo depende da robustez do acordo, já que um simples cessar-fogo frágil traz menos impacto do que uma solução duradoura que inclua garantias de segurança e reconstrução”, afirmou.
Avanço diplomático ou apenas gesto simbólico?
A reunião em Washington representou um avanço simbólico no diálogo internacional. Houve abertura para novas rodadas de negociação e para a possibilidade de uma cúpula com Putin, mas divergências centrais permaneceram sem solução. A Ucrânia mantém sua posição de integridade territorial inegociável, enquanto Trump insiste em concessões pragmáticas. Já a Europa reforça compromissos de defesa coletiva e pressão diplomática sobre Moscou.
Assim, o caminho para a paz continua incerto. Ainda que os mercados e especialistas vejam potencial em um cenário mais estável, a materialização desse ambiente depende de decisões políticas difíceis, em que soberania e pragmatismo se chocam. Até lá, os desdobramentos seguirão no centro da atenção internacional e econômica.