Essa história é bastante manjada, mas vale a pena repetir. O publicitário Nizan Guanaes passou boa parte do ano de 1989 em negociações com a Icatu Investimentos, comandada por Kathy Almeida Braga e Daniel Dantas para obter US$ 1 milhão e montar sua própria agência de propaganda. Tudo deu certo e ele começou o ano de 1990 como empresário. No dia 16 de março, porém, foi promulgado o Plano Collor – e todo o dinheiro dos brasileiros (pessoas físicas e jurídicas) foi congelado pelo governo.
Na prática, os recursos que ele havia captado tinham sido sequestrados pelas autoridades e ele não teria como honrar seus compromissos, já que a empresa ainda estava em seu início e não tinha atingido o break-even. Depois de passar um dia em depressão, Nizan arregaçou as mangas e resolveu marcar um almoço de negócios com clientes e prospects no McDonald’s. Na comunicação que mandou aos convidados, escreveu o seguinte: “Não é porque sua verba desapareceu que a sua agência vai desaparecer. Nós vamos estar aqui do seu lado. Venha ver as saídas na nossa apresentação no McDonald’s (o lugar você compreende, o nosso dinheiro também sumiu).”
Chamou a imprensa, ganhou uma exposição tremenda e aumentou sua clientela, na base do “vida que segue”. É dessa época que surgiu uma de suas frases famosas: “Enquanto eles choram, eu vendo lenços”. Essa máxima deveria estar na cabeça de todos os empresários que ficaram paralisados com o tarifaço decretado pelo presidente americano Donald Trump. Passado o choque inicial, é hora de se mexer – e depressa.
Veja o caso do setor de carnes, atingido em cheio pelas tarifas americanas. As empresas do setor já estão trilhando dois caminhos. Um é o da renegociação. Outro é explorar a rota asiática e redirecionar exportações para Japão, Coreia do Sul e China. O mercado japonês mereceu atenção especial em agosto, quando uma comitiva desembarcou em Tóquio para falar com autoridades e compradores, seguindo depois para Osaka, onde se realiza uma Expo Mundial (a mesma na qual os franceses apresentaram a Torre Eiffel em 1889).
Essa fórmula está também sendo buscada por outros setores.
Empresas como Chilli Beans, Granja Faria, Embraer (livre do tarifaço) JBS, Marfrig e fabricantes de café buscaram nos últimos dias abrir novos mercados para diversificar o portfolio e diminuir uma eventual dependência do mercado americano. Ou seja, estão buscando vender lenços em vez de chorar.
Este é o caminho para todos, incluindo aqueles que apertaram bruscamente o pedal do freio, mesmo estando em mercados que não seriam afetados diretamente pelas tarifas de Trump. O capital é arisco e muitos empresários ficaram intimidados diante de um cenário econômico incerto. Agora, no entanto, é possível mapear melhor o tamanho dos estragos e tomar providências.
Mesmo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deveria deixar os queixumes de lado e adotar soluções criativas para estimular Trump a se sentar à mesa de negociações. A falta de pontes diplomáticas, neste caso, é um problema. Portanto, o governo precisa escalar porta-vozes informais. Um deles pode ser Joesley Batista, que é próximo do Planalto e tem unidades fabris nos Estados Unidos.
Através da Pilgrim’s Pride, empresa controlada pela JBS, ele foi responsável pela maior doação registrada para a cerimônia de posse de Trump, em janeiro. O valor? US$ 5 milhões. Essa contribuição superou as de grandes empresas de tecnologia como Google, Meta, Amazon e até mesmo a Microsoft, que doou US$ 750 mil. Apesar disso, o setor de carnes foi pego pelo tarifaço e a JBS prejudicada pelas novas regras.
Joesley, no entanto, poderia abrir portas importantes neste processo – até pelo tamanho de sua operação nos Estados Unidos. Apenas no segundo trimestre deste ano, a receita líquida da JBS nos Estados Unidos ultrapassou US$ 11,5 bilhões, considerando carne bovina, suína e de frango. Trata-se de um faturamento semelhante ao de empresas como General Motors, Pfizer e Nike. Somente por isso, é um nome que precisa ser ouvido e respeitado pela Casa Branca.