O Brasil, reconhecido por sua abundância em recursos naturais, enfrenta o desafio de desenvolver tecnologia própria para transformar metais críticos como lítio e cobalto em produtos de alto valor agregado. Em entrevista, o analista de economia e política Miguel Daoud destacou que o país não pode se limitar à exportação desses insumos como commodities, mas precisa avançar na cadeia produtiva, criando soluções industriais e tecnológicas que gerem maior riqueza.
Segundo Daoud, “o Brasil precisa desenvolver tecnologia própria para transformar metais críticos em produtos que realmente gerem riqueza para o país”. A avaliação reforça a necessidade de investimentos estratégicos e políticas públicas direcionadas a um setor considerado essencial para a transição energética e a indústria de alta tecnologia.
Por que o Brasil não domina o processo de transformação de metais críticos?
Para Daoud, o Brasil ainda não domina integralmente o processo de transformação de metais críticos, realidade que também afeta países desenvolvidos, como os Estados Unidos. Desde 2018, a China tem intensificado seus investimentos nesse segmento, buscando consolidar liderança global e aumentar sua influência no mercado de tecnologias essenciais.
O analista aponta que essa lacuna tecnológica pode ser explicada pela baixa prioridade na política industrial, pela falta de infraestrutura adequada e pela insuficiência de recursos destinados à pesquisa e desenvolvimento (P&D). “Precisamos criar mecanismos que permitam extrair o máximo potencial econômico e estratégico desses recursos”, afirmou, alertando para a urgência do tema.
Como o Brasil pode avançar na indústria de metais críticos?
De acordo com Daoud, para conquistar relevância nesse mercado o país precisa adotar estratégias estruturadas. Entre as ações prioritárias estão o aumento dos investimentos em P&D, o fortalecimento da cooperação entre governo, universidades e empresas, e a criação de incentivos para startups voltadas à transformação tecnológica desses materiais.
Além disso, ele defende políticas públicas voltadas à inovação e à qualificação profissional para que o Brasil desenvolva uma indústria de metais críticos competitiva. Um ambiente regulatório claro e atrativo também é considerado essencial para captar investimentos estrangeiros e acelerar o crescimento do setor.
Quais são os desafios e oportunidades para investidores?
Na avaliação de Daoud, o mercado de metais críticos apresenta tanto oportunidades quanto riscos para investidores. A crescente demanda global por energias renováveis, mobilidade elétrica e tecnologias sustentáveis tende a impulsionar a procura por lítio e cobalto, o que pode valorizar significativamente essas commodities.
Por outro lado, a ausência de infraestrutura e de tecnologia de transformação no Brasil representa um obstáculo para quem busca investir diretamente no país. A concorrência acirrada no cenário global, especialmente vinda da China, também pode afetar a competitividade brasileira.
- Investimentos em tecnologia de transformação
- Parcerias estratégicas com o setor acadêmico
- Desenvolvimento de políticas públicas favoráveis
Daoud ressalta que investidores devem considerar o cenário regulatório, os incentivos governamentais e a estabilidade econômica antes de tomar decisões. O potencial retorno pode ser elevado, mas requer análise criteriosa dos riscos estruturais e geopolíticos envolvidos.
Um desafio estratégico para o Brasil
Para Miguel Daoud, o avanço na indústria de metais críticos é mais que uma oportunidade econômica: trata-se de uma necessidade estratégica para posicionar o Brasil como player relevante no mercado global. Se bem-sucedido, o país poderá não apenas gerar empregos e renda, mas também garantir participação em cadeias de produção de alto valor, reduzindo a dependência de importações tecnológicas e aumentando sua autonomia estratégica.