Nesta segunda-feira (11), o impasse comercial entre Brasil e Estados Unidos ganhou novos contornos. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, confirmou que a reunião virtual marcada para quarta-feira (13) com o secretário do Tesouro norte-americano, Scott Bessent, foi cancelada unilateralmente pela parte americana. Segundo Haddad, forças políticas de extrema-direita no Brasil teriam atuado junto à Casa Branca para inviabilizar o diálogo — o que ele chamou de “antidiplomacia”.
O encontro seria a primeira tentativa formal de negociar alternativas ao tarifaço de 50% imposto pela administração Trump sobre produtos brasileiros como carne, café, ovos e frutas. A medida, em vigor desde 6 de agosto, já provoca alertas de impacto tanto para exportadores brasileiros quanto para consumidores americanos, que podem enfrentar alta nos preços de itens essenciais.
O que muda com a trégua de 90 dias entre EUA e China?
Enquanto a relação bilateral com o Brasil enfrenta turbulência, Trump adotou postura diferente com a China. Também nesta segunda, o presidente anunciou a prorrogação por 90 dias de uma trégua tarifária com Pequim, preservando isenções e evitando novas sobretaxas. Além disso, expressou esperança de que a China amplie suas compras de soja americana, sinalizando disposição para ajustes quando interesses estratégicos estão em jogo.
Nesse sentido, para Gustavo Assis, CEO da Asset Bank, essa decisão abre um precedente importante para Brasília:
“Essa trégua de 90 dias entre EUA e China sinaliza que, mesmo em um contexto de política externa mais agressiva, há espaço para concessões temporárias quando interesses econômicos estratégicos estão em jogo. Para o Brasil, que hoje enfrenta o tarifaço de 50% dos EUA sobre diversos produtos, esse movimento abre um precedente importante: mostra que Trump está disposto a adiar ou flexibilizar medidas tarifárias se houver negociação com contrapartidas relevantes. Se o Brasil conseguir estruturar uma pauta de negociação que envolva setores de interesse para os EUA, como minerais críticos, energia limpa ou mesmo parcerias agrícolas estratégicas, pode pleitear prorrogações, exceções ou reduções tarifárias semelhantes. Isso exigiria ação rápida do governo e coordenação com o setor privado para apresentar um pacote de propostas que tenha impacto político e econômico em Washington.”
O que o Brasil pode fazer para reverter parte das tarifas?
No curto prazo, o governo brasileiro busca alternativas para reduzir perdas. Por outro lado, a experiência recente com a China mostra que a pressão tarifária de Trump não é necessariamente irreversível — desde que haja algo relevante para negociar. Possíveis caminhos incluem:
- Ampliar exportações para o Sudeste Asiático.
- Acelerar acordos comerciais do Mercosul, como o tratado com a União Europeia.
- Oferecer contrapartidas estratégicas aos EUA, como minerais críticos e parcerias agrícolas.
Além disso, especialistas defendem que a coordenação entre governo e setor privado seja imediata para apresentar propostas com peso político e econômico suficiente em Washington. A trégua sino-americana mostra que, mesmo em meio a um cenário de confrontos comerciais, ainda há espaço para negociação — desde que se fale a linguagem dos interesses estratégicos.