A procura por stablecoins segue em ritmo acelerado na América Latina, especialmente no Brasil, impulsionada por fatores econômicos e tecnológicos. De acordo com a 4ª edição do relatório “Panorama Cripto na América Latina” da Bitso, essas criptomoedas atreladas a ativos estáveis, como o dólar, representaram 46% das compras na região no primeiro semestre de 2025, um aumento em relação aos 39% de 2024 e 30% de 2023. Esse avanço reflete tanto mudanças no comportamento dos investidores quanto a busca por proteção contra a volatilidade cambial.
Segundo o estudo, o USDC e o USDT, cada um com 23% das transações, lideram a preferência dos usuários. No Brasil, as stablecoins representam 35% das compras, 24% de USDC e 11% de USDT, e ocupam lugar de destaque nas carteiras digitais. Para muitos investidores, esses ativos se tornaram um caminho direto para exposição ao dólar, com praticidade e custos tributários mais baixos, já que atualmente não há incidência do IOF sobre a compra desses criptoativos.
Por que o interesse pelas stablecoins aumentou?
Para Luiz Pedro, sócio e analista de cripto da Nord Investimentos, o aumento da demanda por stablecoins passa por dois fatores principais: a popularização da tecnologia e a busca por proteção cambial. “Cada vez mais a gente escuta falar sobre stablecoins, é um assunto que está cada vez mais na mídia especializada sobre finanças. Nos Estados Unidos ganhou bastante notoriedade e está sendo transportado para o Brasil também”, afirma.
Além disso, ele destaca que as stablecoins oferecem facilidade e praticidade para investir em dólar sem a incidência do IOF sobre operações de câmbio. Essa característica se tornou ainda mais atrativa diante do desejo de muitos brasileiros em manter uma reserva na moeda norte-americana, especialmente em um cenário de incertezas econômicas e oscilações cambiais.
O risco de tributação no horizonte
Apesar das vantagens, Luiz Pedro alerta para a possibilidade de mudanças regulatórias. “Existe sim o risco de que o Banco Central coloque algum tipo de incidência do IOF sobre a compra ou sobre a venda de stablecoins. Ainda não tem nada claro sobre o assunto, mas com certeza isso deve estar sendo estudado e deve ser colocado em prática não num futuro muito distante”, observa. Para ele, é improvável que o governo deixe de tributar uma via de acesso ao dólar que hoje não sofre a mesma carga de impostos das operações tradicionais.
Nesse sentido, uma eventual alteração na tributação poderia impactar diretamente a atratividade das stablecoins, especialmente para investidores que utilizam esses ativos como forma de remessa internacional ou proteção de patrimônio.
O que mostram os dados regionais?
O relatório da Bitso mostra que o Brasil não está sozinho nessa tendência. Em países como Argentina, Colômbia e México, as stablecoins também ocupam posição de destaque nas compras e reservas de criptoativos:
- Argentina: USDT representa 78% das compras; USDC, 7%.
- Colômbia: USDC (28%) e USDT (15%) somam 43% das compras.
- México: USDC (25%) e USDT (11%) totalizam 36% das transações.
Esses números indicam um movimento regional de preferência por ativos estáveis, motivado tanto por fatores macroeconômicos, como inflação e instabilidade monetária, quanto pela crescente integração das stablecoins em plataformas financeiras e de pagamentos.
O futuro das stablecoins no Brasil dependerá da regulação?
Enquanto a demanda cresce, o futuro das stablecoins no Brasil pode depender da forma como o Banco Central e o governo definirão a regulação desses ativos. O atual cenário de não incidência de IOF é visto como temporário por especialistas, e qualquer mudança poderá alterar o custo-benefício para investidores.
Por outro lado, mesmo com uma eventual tributação, o uso de stablecoins deve permanecer relevante, considerando a popularização da tecnologia, a facilidade de transações 24 horas por dia e a conexão cada vez maior com serviços financeiros tradicionais. A questão central será equilibrar a segurança regulatória com a preservação das vantagens competitivas que esses ativos oferecem.
Com base nas tendências atuais e no apetite do investidor brasileiro por proteção cambial, as stablecoins devem continuar ocupando um papel central na estratégia de quem busca diversificação e estabilidade em meio à volatilidade dos mercados.