Uma crise, geralmente, provoca a união dos atingidos – uma forma secular para combater um inimigo em comum (ou vários). Na cena política nacional, no entanto, a direita começou a se fragmentar fortemente desde que as sanções às exportações brasileiras foram anunciadas. É bem verdade que a turbulência foi atiçada e provocada por dois símbolos (um maior e ou outro menor) do conservadorismo – o presidente Donald Trump e o deputado Eduardo Bolsonaro — e isso talvez tenha diminuido a sintonia dos direitistas.
As sanções foram seguidas da aplicação da Lei Magnitsky ao ministro Alexandre de Moraes e à prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro. A combinação desses dois fatores acabou sendo o estopim de um desentendimento ainda maior do que aquele que se seguiu ao tarifaço.
Desde que tudo começou, o deputado Eduardo tem acionado sua metralhadora giratória: já foram alvos de críticas os governadores Tarcísio de Freitas, Romeu Zema e Ratinho Jr., os deputados Hugo Motta e Nikolas Ferreira e os senadores Davi Alcolumbre e Tereza Cristina.
Mas o fogo amigo conservador ganhou outra dimensão nesta semana, quando o pastor Silas Malafaia começou a atacar o senador Ciro Nogueira, ex-ministro da Casa Civil da gestão Bolsonaro. Tudo começou porque o senador afirmou que não assinaria um pedido de impeachment do ministro Moraes por não ver viabilidade na proposta.
O pastor foi na jugular de Ciro: “SENADOR CIRO NOGUEIRA, VOCÊ É UM TRAIDOR! Essa sua conversa fiada em dizer que não assina o impeachment do ditador Alexandre de Moraes porque não vai ter o voto de 52 senadores, é o seu joguinho político psicológico, para outros senadores não assinarem e você fazer graça para seus amiguinhos do STF. Você é uma raposa e um camaleão na política. Quem é você para falar pelos outros senadores? Se recolha a sua mediocridade política. SENADORES DE CARÁTER SE RENDEM À VERDADE E À JUSTIÇA!”.
Ciro respondeu com calma e sem o uso de letras maiúsculas: “Pastor Silas, eu não me meto na sua igreja e se o senhor quiser ser senador e se candidatar e liderar o movimento político que quiser será muito bem-vindo. Aí então verá que, diferentemente da sua igreja, na democracia não é a vontade de um, mas da maioria. E que ser torcedor é uma coisa, estar em campo com a responsabilidade de construir resultados é outra”.
Enquanto isso, na família Bolsonaro, parece haver uma disputa silenciosa sobre quem será o herdeiro político do ex-presidente. O deputado Eduardo e o senador Flavio se enxergam como candidatos – e outro nome discutido por lideranças políticas é da ex-primeira-dama, Michelle. O senador, no entanto, declarou ao jornal “O Globo” que ela não deve entrar nessa disputa. “Eu não vejo muito o perfil da Michelle para isso. Ela não fala muito com a imprensa, não gosta de dar entrevista. Todos os parlamentares que estão aqui podem ser porta-vozes”, disse ele ontem no Senado, em meio à confusão que se criou com a ocupação das mesas diretoras das casas por congressistas que protestavam contra a prisão de Jair Bolsonaro.
Por enquanto, os analistas enxergam o senador Flávio mais como uma espécie de articulador político da direita, consolidando alianças no Congresso e nos bastidores partidários – até porque as acusações de “rachadinha” durante o mandato de deputado estadual podem prejudicá-lo em uma disputa nacional.
Ele, além de seu pai, será uma peça fundamental para referendar a candidatura de direita. Ao apoiar Michelle ou Tarcísio, por exemplo, preservaria a influência do bolsonarismo sem se expor diretamente. Sua atuação no Senado e nas negociações com o PL fazem dele uma ponte entre a base raiz do ex-presidente e setores mais moderados. O senador pode ser importante para evitar as divisões internas da direita e aproximá-la do centro, ampliando seu alcance eleitoral. Flavio Bolsonaro, caso abandone a ideia de ser candidato à presidência, será um nome importantíssimo para costurar uma aliança de peso para 2026. Mas, antes de mais nada, vai precisar desatar o nó criado dentro da direita depois dos acontecimentos de julho.
















