No cotidiano profissional, onde metas, entregas e produtividade ocupam o centro das atenções, o fator mais negligenciado ainda é o comportamento no trabalho. Segundo o psicanalista e mentor Junior Silva, por trás de equipes que entregam resultados consistentes estão lideranças atentas ao clima emocional e à forma como as pessoas se relacionam no ambiente corporativo.
Ignorar os sinais de desgaste, tédio ou ambição descontrolada não apenas afeta a convivência entre colegas, mas compromete diretamente a saúde dos times e, como consequência, o desempenho da empresa. O comportamento no trabalho é mais do que uma questão subjetiva, é estratégico.
Ambição inspira ou intoxica o ambiente de trabalho?
Junior Silva alerta para uma distinção essencial: ambição não é ganância. Enquanto a primeira pode ser uma força positiva de crescimento, a segunda tende a gerar rupturas. A ambição saudável motiva, cria metas e engaja. Já a ganância atropela, causa competição interna e contamina o clima.
“Muita gente acredita que está sendo ambiciosa, mas na verdade está sendo gananciosa. E isso gera um peso emocional que compromete o trabalho em equipe”, explica o especialista. O resultado é um ambiente onde a vaidade dita decisões e a colaboração desaparece.
E quando o problema é o tédio no trabalho?
Menos visível, mas igualmente prejudicial, o tédio, ou boreout, é um fenômeno que atinge profissionais desafiados de menos. “Já vi talentos incríveis deixarem o trabalho por falta de trilhas de crescimento”, comenta Junior. Sem estímulo, a desconexão emocional toma conta. A pessoa “está”, mas não se engaja.
O impacto vai além da produtividade. O corpo adoece, o time sente o desânimo e a empresa perde performance silenciosamente. Reconhecer esse tipo de desgaste exige sensibilidade por parte das lideranças.
Como identificar os sinais de alerta no ambiente de trabalho?
Existem comportamentos claros que revelam se alguém está sendo consumido pela ambição excessiva ou pela apatia. A ambição saudável se traduz em energia, iniciativa e vontade de colaborar. Já a ganância aparece quando há foco apenas em tarefas de visibilidade pessoal, reatividade a feedbacks e pouca escuta.
No outro extremo, o tédio se manifesta como “presença ausente”: ausência de iniciativa, entrega mínima e desânimo mesmo em tarefas simples. “Liderar não é só acompanhar indicadores. É saber interpretar pessoas”, reforça Junior.
Cultura de superação ou cultura de esgotamento no trabalho?
Para Junior, a cultura do “sempre mais” está criando gerações de profissionais exaustos. “A romantização do cansaço fez muita gente acreditar que só é competente quem vive no limite.” No entanto, sem clareza, estrutura e cuidado emocional, o esforço vira apenas sobrecarga.
Empresas que estimulam alta performance com responsabilidade emocional colhem resultados mais consistentes. Afinal, alta performance só é sustentável com equilíbrio.
Como tornar o trabalho mais significativo para o colaborador?
Combater a estagnação passa por entender o que move cada pessoa. A personalização das trilhas de carreira e a escuta ativa são elementos-chave para transformar o trabalho em um espaço de crescimento, não de frustração. “O tédio é muitas vezes ausência de escuta”, diz Junior.
Uma simples conversa como, “o que está faltando para você se sentir vivo aqui?”, pode resgatar o engajamento de quem está desanimado. Um ambiente de trabalho saudável é construído com perguntas sinceras e ações práticas.
Nem todo colaborador quer subir, e tudo bem
Junior também defende que as empresas devem respeitar os diferentes perfis. Nem todo colaborador ambiciona cargos de liderança, e isso não o torna menos valioso. Valorizar somente o crescimento vertical é uma visão limitada.
O ideal é oferecer caminhos diversos de desenvolvimento, seja técnico, lateral ou de profundidade. O reconhecimento deve vir pela contribuição ao trabalho coletivo, não apenas pelo título no crachá.
Comportamento no trabalho é estratégia de negócio
Quando uma empresa ignora o comportamento das pessoas no trabalho, ela compromete sua própria competitividade. O que parece apenas emocional, muitas vezes é o que está impedindo inovação, comprometimento e resultados sustentáveis.
Como resume Junior Silva: “Às vezes, por trás de uma performance impecável, existe uma alma cansada. E por trás da apatia, alguém só precisa de direção e sentido”. O futuro das empresas passa por humanizar o trabalho. É isso que constrói resultados que duram.