A crise política e institucional e a tensão externa assolam o Brasil e não tem causado impactos apenas na economia ou no ambiente de negócios. Segundo o psicanalista e empresário Junior Silva, os efeitos dessa instabilidade atingem diretamente o emocional do brasileiro, promovendo um cenário de esgotamento coletivo, especialmente entre os mais vulneráveis.
“Não estamos falando só de crise política. Estamos falando de um país inteiro emocionalmente adoecido e isso é visível para quem sabe observar”, afirma. O psicanalista relata presenciar isso tanto em consultório quanto lideranças empresariais. “A instabilidade institucional, os embates públicos, as falas agressivas, os ataques entre poderes, tudo isso desorganiza o povo por dentro. Não é apenas o bolso que sofre“
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, o Brasil lidera as taxas de transtornos de ansiedade nas Américas, com mais de 9% da população afetada. “Mas quase ninguém fala disso, porque saúde emocional não dá voto nem manchete”, completa o especialista.
Os mais impactados pela instabilidade política: base da pirâmide e empresários invisíveis
Os grupos mais afetados por essa instabilidade política são os que não têm margem de escolha: trabalhadores informais, mães solo, jovens periféricos, pessoas que enfrentam uma rotina de sobrevivência. “Eles não têm tempo para discussão ideológica. Precisam sobreviver”, ressalta Junior.
Outro grupo frequentemente ignorado, segundo ele, são os pequenos e médios empresários. “Eles carregam funcionários nas costas, inovam sem apoio, e vivem com medo de uma canetada destruir tudo. Eles faturam, mas não respiram. Essa conta emocional está explodindo dentro de muita gente, só que como ninguém vê sangue, acham que não é ferida.”
O ambiente que adoece: medo, ruído e manipulação
O cenário que potencializa esse estado de adoecimento emocional é composto por três fatores principais:
- Excesso de informação sem filtro;
- Falta de clareza nas lideranças;
- Redes sociais que reforçam medo, caos e polarização.
Segundo o psicanalista, as plataformas digitais viraram “campos de guerra emocional”, com algoritmos que premiam o conflito. Nesse ambiente, o cidadão comum se torna cada vez mais vulnerável à manipulação emocional.
“Uma pessoa emocionalmente saudável pensa com clareza. Mas uma emocionalmente desorganizada entra em estado de sobrevivência e nesse estado, ela se torna maleável, dependente, frágil. Fica fácil conduzir quem está perdido.”
Para Junior, a pergunta central que ainda não está sendo feita é: quem se beneficia de uma população emocionalmente desorganizada?
Além da política: liderança e responsabilidade emocional
Na visão do especialista, o papel de promover estabilidade emocional e institucional não se limita ao governo federal. Toda pessoa com influência, seja em partidos, empresas ou igrejas, tem responsabilidade sobre o ambiente emocional que gera.
“Governar é também cuidar da alma do povo. Estabilidade institucional não é só pauta política. É uma ferramenta direta de cuidado com o povo.”
Segundo ele, previsibilidade, clareza nas decisões e diálogo entre os poderes são fatores que ajudam a restabelecer o senso de segurança emocional. E isso afeta diretamente a produtividade, a criatividade e até a esperança do cidadão.
O Brasil adoece em silêncio com instabilidade política
“O Brasil não vai avançar se continuar emocionalmente em frangalhos. Não importa se o líder é de direita ou de esquerda – isso aqui não é sobre lado, é sobre gente”, conclui Junior Silva.
A análise alerta para um aspecto pouco debatido no noticiário político-econômico: o impacto subjetivo da instabilidade na vida cotidiana. Afinal, quando a ansiedade domina e o medo paralisa, não há ambiente fértil para empreender, consumir ou sonhar com o futuro.