O presidente Luiz Inácio Lula da Silva iniciou uma nova ofensiva diplomática ao visitar o Chile em busca de apoio internacional contra as tarifas comerciais impostas ao Brasil por Donald Trump. A viagem, no entanto, foi alvo de críticas contundentes do economista VanDyck Silveira, que classificou a estratégia como “ridícula” e “ideológica”, com poucos efeitos práticos.
Segundo Silveira, Lula tenta formar um bloco com países latino-americanos ideologicamente alinhados à esquerda, mas que “representam o que há de mais antiquado na política global”. Para o economista, a tentativa de organizar uma frente contra Trump demonstra uma má leitura do cenário geopolítico atual. “É o exército de Brancaleone. Um grupo de derrotados da economia global que ainda insiste em discursos ultrapassados de soberania”, afirmou em entrevista à BM&C News.
Silveira argumenta que o conceito de soberania absoluta não se aplica ao mundo globalizado de hoje e critica a postura do governo brasileiro por tentar enfrentar o que ele chama de “hegemonia inevitável” dos Estados Unidos. “Quem manda no jogo é quem distribui as cartas. Embarcação de capitão não obedece marinheiro”, afirmou.
Falta de interlocução do governo Lula com os EUA preocupa
O economista também destacou a dificuldade do governo brasileiro em estabelecer diálogo com autoridades norte-americanas. De acordo com ele, o Brasil não conseguiu sequer contato com o segundo escalão da Casa Branca. “Estamos lidando com o terceiro ou quarto escalão. Isso é gravíssimo para nossas exportações”, alertou.
Silveira comparou a atuação brasileira com a da China, que, segundo ele, tem mais de 10 mil profissionais dedicados a promover relações comerciais nos Estados Unidos. “O Brasil é um país exportador, especialmente de alimentos e aeronaves. Ainda assim, não possui estrutura diplomática e comercial adequada para defender seus interesses”, disse.
Impactos econômicos e riscos à Embraer
Silveira também mencionou a Embraer como um exemplo do risco que a escalada diplomática com os Estados Unidos pode trazer. “A Embraer é a única exportadora de alto valor agregado que temos, e os EUA são o maior mercado para os seus produtos. Essa tensão pode afetar diretamente seus resultados”, explicou.
Para ele, em vez de buscar apoio político em países ideologicamente alinhados, o governo deveria focar em articulação com o Congresso norte-americano, empresas importadoras e grupos de pressão em Washington. “Falta visão estratégica. O caminho é negociar, não confrontar”, completou.
Diplomacia ideológica e contradições do governo Lula
O economista também não poupou críticas à postura do presidente Lula em outros episódios de política externa. Ele lembrou que o presidente brasileiro visitou a ex-presidente argentina Cristina Kirchner, condenada judicialmente, sem consultar o atual presidente Javier Milei. “É contraditório falar em respeito à soberania quando se atropela instituições de outro país vizinho”, pontuou.
Silveira conclui que a atual postura diplomática do governo brasileiro isola o país das grandes potências e o aproxima de regimes autoritários, como o Irã, a Venezuela e a Rússia. “O Brasil está se distanciando do eixo ocidental, que é onde o jogo é jogado. Está preferindo jogar a série B da geopolítica global”, disse.
Para VanDyck, a retórica nacionalista usada por Lula faz parte de uma tentativa de recuperar apoio popular diante da queda na avaliação do governo. “Esse discurso de que estamos lutando pela soberania serve para inflamar sentimentos nacionalistas. Mas soberania real é ter comida de qualidade na mesa, produtos acessíveis e uma economia eficiente. Não é dizer que o Pix é brasileiro ou que o mundo conspira contra nós”, criticou.