Mesmo com a escalada retórica do presidente Donald Trump em torno de novas tarifas contra parceiros comerciais, incluindo o Brasil, o dólar segue mostrando resiliência no cenário internacional. O anúncio de medidas protecionistas agressivas, que incluem tarifas de até 50% a partir de agosto, tem tido pouco impacto sobre as moedas globais, uma mudança importante em relação à volatilidade observada meses atrás.
Para Matthew Ryan, CFA e Head de Estratégia de Mercado da Ebury, a resposta contida dos mercados cambiais revela uma mudança de percepção sobre o comportamento do presidente americano. “As cartas que ele continua enviando a parceiros comerciais, anunciando tarifas muito altas a partir de agosto, estão sendo interpretadas como mais um adiamento do seu prazo de 9 de julho e são, em grande parte, vistas como blefe de negociação”, analisa.
Ryan aponta que as moedas do G10 continuam operando em faixas estreitas entre si, e que parte dos investidores vêem a retórica de Trump como parte de uma tática eleitoral. “É notável que a reação do mercado é ignorar as notícias sobre as tarifas, ou até mesmo impulsionar o dólar, uma mudança marcante em relação à resposta inicial ao ‘Dia da Libertação’ em abril”, acrescenta o estrategista.
Além do dólar: títulos do tesouro sobem, mas com ordem
Embora o mercado cambial esteja relativamente estável, o mercado de títulos do Tesouro dos EUA começa a dar sinais de desconforto. Segundo Ryan, os ativos de renda fixa de longo prazo têm sido pressionados à medida que o Congresso avança com o projeto de lei orçamentária, o que acentua o temor em torno do déficit público americano.
“O mercado de títulos continua a enviar sinais preocupantes, à medida que os títulos de longo prazo são vendidos em reação ao projeto de lei orçamentário dos EUA e à perspectiva de déficits massivos a perder de vista”, explica. Apesar disso, o especialista observa que essa movimentação ocorre de maneira ordenada e sem provocar pânico entre os investidores.
Pressão sobre o Fed preocupa mais que tarifas: entenda os impactos no dólar
Além das tensões comerciais, uma das principais fontes de atenção do mercado neste momento é o embate entre a Casa Branca e o Federal Reserve. Trump vem intensificando o discurso contra a autoridade monetária, cobrando cortes de juros mais rápidos em um momento em que o banco central ainda sinaliza cautela.
“Uma fonte adicional de preocupação para o dólar será o ataque de Trump à independência do Fed, enquanto ele pressiona o banco central a reduzir as taxas mais rápido do que este está inclinado a fazer”, ressalta Ryan. O tom político da crítica adiciona ruídos à condução da política monetária e pode comprometer a credibilidade institucional do Fed se houver interferência direta do Executivo.
Perspectiva para os próximos dias
Segundo o estrategista da Ebury, a resiliência do dólar será colocada à prova nas próximas semanas, à medida que as negociações comerciais se desenrolam e o cenário fiscal e político interno dos EUA evolui. “Os mercados acompanharão de perto as negociações comerciais em busca de qualquer indício de progresso”, afirma.
Além disso, a combinação de déficits crescentes, pressão sobre o Fed e retórica tarifária agressiva pode tornar o ambiente mais volátil, mesmo que, por ora, os indicadores mostrem estabilidade. A dúvida permanece sobre quanto tempo essa “blindagem” do dólar poderá resistir caso as ameaças se concretizem ou os fundamentos econômicos se deteriorem.
















