A inflação ao consumidor nos Estados Unidos voltou a ganhar força em junho, segundo o CPI divulgado nesta terça-feira (15) pelo Departamento do Trabalho. O índice cheio subiu 0,3% no mês, após alta de 0,1% em maio, marcando o maior avanço mensal desde janeiro. No acumulado de 12 meses, a inflação anual passou de 2,4% para 2,7%.
Apesar da aceleração no índice cheio, o núcleo do CPI, que exclui alimentos e energia, veio abaixo do esperado, com alta de 0,2% no mês e 2,7% na comparação anual. O dado mensal veio levemente abaixo da previsão de 0,3%, e ajudou a conter a reação do mercado, que esperava sinais mais firmes para uma eventual mudança de rumo na política de juros do Federal Reserve.
Tarifas começam a aparecer no CPI
Especialistas destacam que os efeitos das tarifas comerciais anunciadas no início do ano já começaram a influenciar os preços, sobretudo em categorias como vestuário, móveis e recreação.
“O CPI de junho trouxe exatamente o que esperávamos: uma inflação que não está fora de controle, mas também não está cooperando totalmente com o Fed”, avalia Fabio Fares, especialista em análise macro.
“O que mais me chamou atenção foi como as tarifas comerciais já começaram a aparecer nos dados. Roupas, móveis, eletrodomésticos, brinquedos, todas essas categorias mostraram pressão clara. Não é coincidência, é economia básica: tarifa sobre importação vira custo para o consumidor.”
Fares ressalta ainda que, embora parte do índice tenha surpreendido para cima, outros itens mostraram alívio: “Carros usados caíram 0,7%, hotéis despencaram 3,6%, até ovos caíram mais de 7%”. Já o segmento de habitação segue com pressão gradual: “Subiu 0,2%, abaixo dos 0,3% de maio, mas ainda longe de estar resolvido”.
Mercado reduz apostas em corte de juros
Para Marcos Moreira, sócio da WMS Capital, o dado mais forte do que o esperado reduz a probabilidade de cortes de juros em 2025. “O núcleo veio em linha com o esperado, mas o número cheio veio acima. Isso favorece uma postura mais cautelosa do Fed, dentro da lógica de ‘juros mais altos por mais tempo’”, afirmou.
Moreira também chamou atenção para o impacto das tarifas: “Agora passa a ser mais perceptível o efeito sobre a inflação ao consumidor. Antes, os estoques protegiam, mas agora os aumentos nos preços estão sendo sentidos e dificultam o trabalho do Fed.”
Segundo ele, a combinação de mercado de trabalho resiliente com inflação pressionada fortalece o argumento para manter os juros elevados por mais tempo. “O desemprego está em mínimas históricas. Isso reforça a ideia de que o Fed não tem urgência para cortar.”
Serviços e transporte surpreendem para baixo
Na análise de Isadora Junqueira, economista da AZ Quest, apesar da surpresa no headline do CPI, o núcleo trouxe sinalizações positivas. “A parte de serviços surpreendeu para baixo pelo segundo mês consecutivo. Aluguéis e hotéis puxaram essa queda. Embora hotéis sejam voláteis, a desaceleração dos aluguéis é bem-vinda.”
Ela também destaca o comportamento do setor de transporte: “Tanto em bens quanto em serviços, transporte tem surpreendido para baixo. Veículos novos, por exemplo, registraram deflação de 0,3%”.
Segundo Isadora, os efeitos das tarifas ainda estão restritos a algumas categorias. “Os impactos mais claros estão em bens de consumo doméstico e recreação. Mas ainda não temos o efeito completo. Os próximos meses devem revelar mais”, projeta.
Além do CPI: Fed aguarda mais dados
Com os números de junho, analistas avaliam que o Federal Reserve deve manter a taxa de juros inalterada na próxima reunião, marcada para o fim de julho. O mercado segue dividido quanto à possibilidade de cortes em setembro.
“O número deixa a porta aberta para cortes no segundo semestre, mas ainda depende de novos dados”, conclui Isadora Junqueira. Fabio Fares reforça essa visão: “O Fed vai continuar esperando. Estamos caminhando na direção certa, mas ainda não chegamos lá.”