O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,24% em junho, segundo dados divulgados nesta quarta-feira (10). O número veio levemente acima das expectativas do mercado, sinalizando desaceleração frente ao mês anterior, mas com pressão contínua no acumulado de 12 meses, que atinge 5,32%. Com isso, a inflação oficial permanece acima do teto da meta, de 4,5%, pelo sexto mês consecutivo.
Apesar do leve alívio nos núcleos de inflação — aqueles que desconsideram choques pontuais e que são monitorados de perto pelo Banco Central — a economista Andrea Angelo, estrategista de inflação da Warren Investimentos, chamou atenção, em entrevista à BM&C News, para um novo fator de risco: o anúncio de tarifas comerciais por parte do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra produtos brasileiros.
“Ainda estamos no campo das negociações, mas o mercado já acordou hoje tentando precificar os impactos dessa medida”, disse Angelo. Para a estrategista, uma eventual desvalorização do real diante da incerteza externa pode comprometer a tendência de desinflação observada nos últimos dados.
“Se o câmbio subir, isso pode afetar diretamente os preços ao consumidor e anular parte do alívio que vimos em junho”, avaliou. Ela explica que, embora a inflação de serviços e núcleos esteja desacelerando — saindo de um patamar próximo a 7,5% para algo acima de 6% —, o nível ainda é elevado e sensível a choques externos.
A pressão cambial, portanto, volta ao radar como um obstáculo à continuidade do processo desinflacionário. “Essa inflação estrutural não permite, por ora, discutir corte de juros. O Banco Central deve manter a Selic em patamar elevado por mais tempo, até ter mais clareza sobre o impacto desses movimentos na inflação”, concluiu.
A autoridade monetária tem enfatizado a necessidade de cautela diante de um cenário externo incerto e de uma economia doméstica ainda resiliente. O episódio das tarifas reforça esse ambiente de imprevisibilidade, dificultando a tarefa de calibrar os juros com vistas a trazer a inflação de volta à meta.
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