O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta quarta-feira (9) que aplicará uma tarifa de 50% sobre produtos importados do Brasil a partir de 1º de agosto de 2025. A medida amplia significativamente a tarifa atual, que estava em 10% desde abril deste ano.
Em carta dirigida ao presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, Trump explicou que a decisão ocorre devido a dois fatores principais: o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e o que chamou de “relação comercial injusta” entre os países.
Justificativa de Trump para novas tarifas
Trump criticou a situação envolvendo Bolsonaro, classificando o julgamento do ex-presidente brasileiro como uma “vergonha internacional” e uma “caça às bruxas”. Bolsonaro enfrenta atualmente um processo judicial relacionado ao suposto envolvimento em atos antidemocráticos após a eleição presidencial de 2022.
O presidente norte-americano afirmou também que o Brasil mantém políticas tarifárias e não-tarifárias prejudiciais aos Estados Unidos, acusando o país sul-americano de provocar um “déficit comercial insustentável” que compromete a segurança econômica dos EUA.
No entanto, dados oficiais do Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos (USTR) apontam o contrário: em 2024, os EUA registraram um superávit comercial com o Brasil de cerca de US$ 7,4 bilhões.
Impactos da tarifa no mercado financeiro brasileiro
O anúncio das novas tarifas provocou reação imediata no mercado financeiro. O Ibovespa futuro, com vencimento em agosto de 2025, recuou mais de 2%, enquanto o dólar futuro subiu quase 2%, atingindo R$ 5,58. No fechamento do dia, o índice Ibovespa à vista caiu 1,3%, e o dólar comercial encerrou em alta de 1,06%, cotado a R$ 5,50.
Especialistas alertam que a nova tarifa, acima dos 22% esperados pelo mercado, pode afetar negativamente empresas brasileiras que dependem de exportações para o mercado norte-americano, além de impactar a confiança dos investidores no país.
Investigação sobre práticas comerciais
Trump também anunciou a abertura de uma investigação, conhecida como “Seção 301”, sobre práticas comerciais brasileiras relacionadas ao comércio digital. Segundo a carta divulgada por Trump, as empresas americanas estariam sendo prejudicadas por medidas regulatórias adotadas pelo Brasil contra plataformas digitais.
Além disso, o presidente norte-americano indicou que poderá rever ou aumentar as tarifas caso o Brasil responda com medidas semelhantes.
Contexto internacional e BRICS
A medida adotada por Trump ocorre em um momento em que os Estados Unidos demonstram preocupação com o fortalecimento dos BRICS—bloco econômico que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul—, sobretudo em relação à possível ameaça à hegemonia do dólar.
Trump ressaltou que a tarifa anunciada poderia ser reconsiderada caso o Brasil aceitasse flexibilizar suas políticas tarifárias e não-tarifárias, ampliando o acesso das empresas americanas ao mercado brasileiro.
Tarifas anunciadas para outros países
Além do Brasil, Trump informou nesta quarta-feira tarifas sobre importações da Argélia, Líbia, Iraque e Sri Lanka (30%), Brunei e Moldávia (25%), e Filipinas (20%).
Questionado sobre os critérios para definição das alíquotas, o presidente dos EUA afirmou que se baseou em “bom senso, déficits comerciais e histórico das relações comerciais com esses países”.
Veja a carta na íntegra:

Tradução:
“Prezado Sr. Presidente:
Conheci e lidei com o ex-presidente Jair Bolsonaro, e o respeitei profundamente, assim como a maioria dos outros líderes de países. A forma como o Brasil tem tratado o ex-presidente Bolsonaro — um líder altamente respeitado em todo o mundo durante seu mandato, inclusive pelos Estados Unidos — é uma vergonha internacional. Esse julgamento não deveria estar acontecendo. Trata-se de uma caça às bruxas que deve acabar IMEDIATAMENTE!
Em parte devido aos ataques insidiosos do Brasil contra as eleições livres e os direitos fundamentais de liberdade de expressão dos americanos (como foi ilustrado recentemente pelo Supremo Tribunal Federal brasileiro, que emitiu centenas de ordens secretas e ilegais de censura às plataformas de mídia social dos EUA, ameaçando-as com milhões de dólares em multas e expulsão do mercado brasileiro), a partir de 1º de agosto de 2025, cobraremos uma tarifa de 50% sobre qualquer produto brasileiro enviado aos Estados Unidos, além de todas as tarifas setoriais existentes. Mercadorias transbordadas para evitar essa tarifa de 50% estarão sujeitas à tarifa mais alta.
Além disso, tivemos anos para discutir nossa relação comercial com o Brasil, e concluímos que precisamos nos afastar dessa relação antiga e muito injusta, marcada por políticas e barreiras tarifárias e não-tarifárias do Brasil. Nossa relação tem sido, infelizmente, muito pouco recíproca.
Peço que compreenda que a tarifa de 50% é muito menor do que o necessário para equilibrar o campo de jogo com o seu país. E é necessário adotar essa medida para corrigir as graves injustiças do regime atual. Como o senhor sabe, não haverá tarifa se empresas brasileiras, ou que operem no Brasil, decidirem construir ou fabricar seus produtos dentro dos Estados Unidos. E, de fato, faremos tudo o possível para aprovar isso de forma rápida, profissional e rotineira — ou seja, em questão de semanas.
Se por algum motivo o senhor decidir aumentar suas tarifas, então qualquer que seja o número que escolher aumentá-las, será acrescentado aos 50% que cobraremos. Por favor, entenda que essas tarifas são necessárias para corrigir os muitos anos de políticas tarifárias e não-tarifárias do Brasil, causando déficits comerciais insustentáveis contra os Estados Unidos. Esse déficit é uma grande ameaça à nossa economia e, de fato, à nossa segurança nacional! Além disso, por causa dos contínuos ataques do Brasil às atividades comerciais digitais das empresas americanas, bem como de outras práticas comerciais desleais, estou instruindo o Representante de Comércio dos Estados Unidos, Jamieson Greer, a iniciar imediatamente uma investigação de Seção 301 contra o Brasil.
Se o senhor quiser abrir seus mercados comerciais, até então fechados, para os Estados Unidos e eliminar suas políticas tarifárias e não-tarifárias e barreiras comerciais, nós talvez consideremos um ajuste desta carta. Essas tarifas podem ser modificadas, para cima ou para baixo, dependendo da nossa relação com seu país. O senhor nunca ficará desapontado com os Estados Unidos da América.
Obrigado por sua atenção a este assunto!”