A mais recente pesquisa da Quaest revelou que 46% dos deputados federais avaliam negativamente o governo Lula, o maior índice de rejeição desde o início do terceiro mandato. A sondagem também mostrou que, para 49% dos parlamentares, o STF invade com frequência as competências do Congresso Nacional. Além disso, o levantamento apontou Tarcísio de Freitas como o principal nome da oposição aos olhos da Câmara, reforçando a leitura de um cenário político cada vez mais polarizado.
Em entrevista à BM&C News, o analista de economia e política Miguel Daoud avaliou os dados como um possível ponto de inflexão na governabilidade de Lula. Segundo ele, a crescente tensão entre os Poderes e a insatisfação dentro do próprio Parlamento podem comprometer a agenda fiscal do governo nos próximos anos.
“O Lula não vai conseguir mais governar, independente de estar bem ou não com o Congresso. Ele precisa de um discurso para justificar exatamente o seu fracasso”, afirmou Daoud.
Supremo é provocado por Lula, mas percepção de interferência persiste
Ao comentar a visão majoritária dos deputados de que o Supremo Tribunal Federal interfere nas prerrogativas legislativas, Daoud ressaltou que as ações da Corte são, em geral, reativas. “O STF só age quando é provocado. O problema é a forma como interpreta os preceitos constitucionais, e isso pode sim ter um viés ideológico mais alinhado com o Executivo.”
O analista citou como exemplo o caso recente da judicialização do IOF, destacando que o Supremo não tomou iniciativa por conta própria, mas foi instado a se manifestar.
Tarcísio lidera na oposição, mas ainda sem capital eleitoral garantido
Para Daoud, o dado de que 51% dos deputados preferem que Bolsonaro indique Tarcísio como nome da oposição pode até ser uma boa notícia para o governo. “O único adversário que poderia gerar uma polarização favorável ao Lula seria o Bolsonaro. Se o nome da vez for o Tarcísio, que tem um bom governo e uma imagem séria, a dúvida é: ele vai conseguir herdar os votos da rejeição ao governo?”, questiona.
Na visão dele, o governador de São Paulo ainda não reúne força eleitoral suficiente para mobilizar a base bolsonarista.
Lula quer encerrar a carreira com vitória
Daoud também traçou um perfil político do atual presidente. “Lula é um político experiente. Foi eleito duas vezes, elegeu Dilma duas vezes e voltou ao poder após 600 dias preso. Mas ele quer sair consagrado. Ele quer terminar esse ciclo elegendo um sucessor ou se reelegendo.”
Segundo ele, esse desejo de sair do poder em alta alimenta o atual clima de tensão institucional. “Essa briga, no fim das contas, quem perde é o povo brasileiro”, concluiu.
Ambiente político é “mediocre e polarizado”, diz analista
Para o comentarista, o Brasil vive um momento crítico de degradação nas relações entre os Três Poderes. “Essa polarização entre Supremo, Legislativo e Executivo retrata a mediocridade dos poderes que temos hoje. Não é um ambiente que favoreça a estabilidade nem a atração de investimentos.”
Com a proximidade das eleições de 2026, a crise de confiança no Executivo, as críticas ao Judiciário e a fragmentação do Legislativo tornam ainda mais incerto o cenário político brasileiro.