Em entrevista à BM&C News, Roberto Motta, estrategista macro da Genial Investimentos, fez um alerta sobre a crise entre os Poderes no Brasil, classificando o momento como um dos mais delicados no relacionamento institucional entre Executivo e Legislativo. O ponto mais crítico, segundo ele, é a judicialização do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), que evidencia um cenário de ruptura entre os entes federativos.
“O uso do IOF como um instrumento regulatório para contornar o Congresso intensificou a tensão entre os Poderes”, afirmou Motta. Para o estrategista, essa postura do Executivo, somada a medidas com viés populista de olho nas eleições de 2026, pode aumentar o nível de incerteza no mercado e comprometer decisões de investimento.
Apesar do ambiente político interno conturbado, Motta observa que o cenário internacional tem favorecido os ativos brasileiros, sobretudo com a fraqueza do dólar. No entanto, ele adverte que o alívio externo não é suficiente para compensar os riscos locais. “Os ativos seguem sustentados por fatores globais, mas a crise entre os Poderes representa uma ameaça real à confiança do investidor”, pontuou.
Crise institucional entre Poderes e seus reflexos nos investimentos
A instabilidade política tem reflexos diretos na condução da política fiscal. Motta destaca que o uso recorrente de instrumentos como o IOF, fora do debate legislativo, gera insegurança sobre a previsibilidade das regras. “Mudanças frequentes na política fiscal e a falta de coordenação entre os Poderes afastam o investimento produtivo, essencial para o crescimento sustentável”, reforça.
As taxas de juros também entram no radar. Com a inflação sob controle e a política monetária em fase de avaliação, o estrategista aponta que o comportamento do Banco Central diante da crise institucional será decisivo. “Se o ambiente político continuar deteriorando, o BC pode ser pressionado a rever sua estratégia, o que impactaria diretamente os mercados”, afirma.
Para Motta, a crise entre Executivo e Legislativo não é apenas um problema de governabilidade, mas um fator central na formação de expectativas econômicas. Um diálogo mais construtivo entre os Poderes é, segundo ele, o único caminho para restaurar a estabilidade institucional e retomar a confiança dos investidores.