Durante o sono, muitas pessoas percebem que raramente conseguem recordar o início de um sonho. Em geral, ao tentar lembrar de um sonho ao acordar, apenas cenas finais ou fragmentos desconexos vêm à mente, enquanto o começo permanece esquecido. Esse fenômeno intriga estudiosos do sono e da memória há décadas, levando a diversas pesquisas sobre o funcionamento do cérebro durante os diferentes estágios do descanso noturno.
O cérebro humano passa por várias fases ao longo do sono, sendo o estágio REM (Rapid Eye Movement) o mais associado à ocorrência de sonhos vívidos. No entanto, há fatores biológicos e comportamentais que explicam por que a lembrança dos sonhos costuma ser parcial, especialmente em relação ao seu início. Entender esses mecanismos pode ajudar a compreender melhor como as memórias oníricas são formadas e por que tendem a se dissipar rapidamente.
Por que o início dos sonhos é tão difícil de lembrar?
Grande parte dos sonhos acontece durante o sono REM, período em que a atividade cerebral é intensa, mas algumas áreas responsáveis pela consolidação da memória, como o córtex pré-frontal, apresentam funcionamento reduzido. Isso significa que, enquanto o cérebro cria narrativas complexas, ele não registra todas as informações com a mesma eficiência que faria em estado de vigília. Como resultado, os primeiros momentos do sonho, que ocorrem quando a atividade do córtex está ainda mais baixa, acabam não sendo armazenados de forma consistente.
O que acontece no cérebro durante o sono REM?
Durante o sono REM, neurotransmissores importantes para a fixação de memórias, como a serotonina e a norepinefrina, atingem níveis muito baixos. Essa diminuição química dificulta o registro de experiências oníricas na memória de longo prazo. Por isso, é comum que apenas os fragmentos mais recentes do sonho, especialmente aqueles vivenciados imediatamente antes do despertar, sejam lembrados. Quando o indivíduo acorda logo após um ciclo REM, as chances de recordar detalhes do sonho aumentam, mas o início da experiência permanece nebuloso.

Quais fatores influenciam a lembrança dos sonhos?
Além dos aspectos biológicos, fatores pessoais e comportamentais também desempenham papel importante na recordação dos sonhos. Entre eles, destacam-se:
- Padrão de sono: Pessoas que acordam espontaneamente durante a noite, especialmente durante o sono REM, tendem a lembrar mais sonhos.
- Perfil psicológico: Indivíduos criativos ou com interesse em sonhos costumam ter maior facilidade para recordar detalhes oníricos.
- Intensidade emocional: Sonhos que provocam emoções fortes ou situações marcantes são mais facilmente lembrados, mesmo que apenas em parte.
- Qualidade do sono: Quem dorme profundamente e de forma contínua pode ter menos interrupções durante o REM, o que reduz a chance de lembrar dos sonhos.
Como é possível melhorar a lembrança dos sonhos?
Existem estratégias que podem aumentar a capacidade de recordar sonhos, inclusive seus momentos iniciais. Algumas práticas recomendadas incluem:
- Manter um diário de sonhos ao lado da cama e anotar imediatamente qualquer lembrança ao acordar.
- Evitar o consumo de álcool ou estimulantes antes de dormir, pois essas substâncias podem prejudicar o ciclo REM.
- Buscar acordar naturalmente, sem alarmes bruscos, para favorecer o resgate das memórias oníricas.
- Refletir sobre o sonho assim que despertar, tentando reconstruir a sequência dos acontecimentos.
- Adotar uma rotina de sono regular, garantindo noites bem dormidas e ciclos REM completos.
Em síntese, a dificuldade em lembrar o início dos sonhos está relacionada à forma como o cérebro processa e armazena memórias durante o sono REM. A atividade reduzida em áreas responsáveis pela consolidação das lembranças, aliada à baixa concentração de neurotransmissores, faz com que apenas fragmentos recentes sejam resgatados ao despertar. Fatores individuais e hábitos de sono também influenciam esse processo, mas, com algumas práticas, é possível treinar a mente para registrar sonhos com mais detalhes, inclusive desde seus primeiros instantes.