O Bolsa Família, programa social de transferência de renda do governo federal, desempenha papel fundamental no combate à pobreza no Brasil. Contudo, recentes levantamentos apontam para um desafio crescente: a ocorrência de fraudes por omissão de informações, especialmente envolvendo a composição familiar. Dados oficiais do Ministério do Desenvolvimento Social e do IBGE, analisados até março de 2025, sugerem que mais de 1,4 milhão de famílias podem estar omitindo o cônjuge para garantir o acesso ao benefício.
Esse tipo de fraude ocorre, por exemplo, quando um dos responsáveis pelo domicílio possui renda formal, o que inviabilizaria o recebimento do auxílio, levando o outro a declarar-se como chefe de família monoparental. A prática tem sido identificada em diversas cidades, com destaque para municípios do Norte e Nordeste, onde o número de famílias monoparentais cadastradas no programa supera o de domicílios com essa configuração, segundo o Censo.
Como funcionam as fraudes no Bolsa Família?
O mecanismo mais comum envolve a omissão do cônjuge no Cadastro Único, sistema utilizado para identificar e caracterizar famílias de baixa renda. Dessa forma, uma mesma residência pode ser registrada como duas famílias distintas, cada uma recebendo o benefício. Em outros casos, o endereço é alterado ou forjado para dificultar a identificação da fraude. Segundo especialistas, a falta de fiscalização rigorosa e a dificuldade de mapear domicílios em áreas sem CEP contribuem para a perpetuação dessas irregularidades.
Quais são os impactos financeiros dessas omissões?
O custo anual estimado dessas fraudes ultrapassa R$ 11 bilhões, valor que poderia ser destinado a famílias realmente necessitadas ou a outros programas sociais. Mensalmente, o gasto chega a quase R$ 1 bilhão apenas com famílias que provavelmente omitem informações. Esse montante evidencia a importância de aprimorar os mecanismos de controle e cruzamento de dados, como o uso do CPF e a integração de diferentes bases governamentais.
Como o governo identifica e combate as fraudes no Bolsa Família?
O Ministério do Desenvolvimento Social atribui aos municípios a responsabilidade pelo cadastramento e atualização das informações das famílias no Cadastro Único. Quando há indícios de fraude, a gestão municipal deve apurar os fatos e adotar providências, conforme normativas recentes. Entre as estratégias para detectar irregularidades, destacam-se:
- Cruzamento de dados entre diferentes programas sociais e registros oficiais;
- Visitas domiciliares em áreas com maior incidência de inconsistências;
- Atualização cadastral periódica para verificar a veracidade das informações;
- Recebimento e apuração de denúncias encaminhadas por cidadãos ou órgãos públicos.

Por que as fraudes são mais frequentes em determinadas regiões?
O levantamento mostra que cidades do Norte e Nordeste concentram a maior parte das discrepâncias entre o número de domicílios monoparentais e famílias cadastradas como tal no Bolsa Família. Fatores como a informalidade, ausência de CEP em comunidades e dificuldades de fiscalização presencial contribuem para o cenário. Em algumas localidades, o número de famílias beneficiadas supera em várias vezes o total de domicílios com estrutura compatível, indicando possíveis manipulações nos cadastros.
O que pode ser feito para aprimorar o controle do Bolsa Família?
Especialistas sugerem que o fortalecimento do cruzamento de informações por CPF, a ampliação das visitas domiciliares e a integração de diferentes bancos de dados públicos são medidas essenciais para reduzir fraudes. Além disso, a capacitação de gestores municipais e a atualização constante das informações no Cadastro Único podem aumentar a precisão na identificação de famílias elegíveis.
Apesar dos desafios, o Bolsa Família segue sendo um instrumento importante para a redução das desigualdades sociais no Brasil. O aprimoramento dos processos de fiscalização e a transparência no uso dos recursos públicos são fundamentais para garantir que o benefício chegue a quem realmente precisa, promovendo justiça social e eficiência na gestão dos programas de transferência de renda.