Em julho de 2023, um voo comercial da Swiss que cruzava o Canal da Mancha enfrentou um incidente que trouxe à tona desafios importantes relacionados ao uso de equipamentos de proteção respiratória pela tripulação de cabine. O episódio envolveu um Airbus A330-300 e destacou questões de segurança operacional e treinamento em situações de emergência a bordo.
Durante o trajeto entre Zurique e Newark, um cheiro incomum foi detectado na cabine, levando pilotos e comissários a utilizarem máscaras de oxigênio e equipamentos de proteção. O retorno à origem foi decidido como medida preventiva. A investigação do caso revelou que a tripulação encontrou obstáculos significativos ao tentar utilizar os dispositivos de proteção, expondo fragilidades tanto no design quanto nos procedimentos de treinamento.
Quais foram as principais dificuldades enfrentadas pela tripulação?
Segundo o relatório divulgado pela autoridade suíça de investigação de segurança, os comissários de bordo tiveram problemas desde o momento de desembalar o equipamento de proteção respiratória até sua ativação e uso efetivo. Entre as dificuldades relatadas, destacam-se:
- Dificuldade para abrir embalagens a vácuo, em alguns casos sendo necessário o uso de tesouras ou facas.
- Defeitos técnicos em várias unidades, que estavam parcial ou totalmente inoperantes.
- Tempo excessivo para colocar e ativar o equipamento, ultrapassando em muito o intervalo recomendado de 15 segundos.
- Desconforto físico, como pressão no rosto e aumento de temperatura interna após a ativação.
- Prejuízo severo na comunicação entre os membros da tripulação durante o uso dos dispositivos.
Esses fatores comprometeram a resposta rápida e eficiente exigida em situações de emergência, elevando o risco para a segurança de todos a bordo.

Como o treinamento influenciou o desempenho da tripulação?
O relatório apontou que o treinamento oferecido aos comissários de bordo era realizado com equipamentos de demonstração, conhecidos como “dummy”, que diferiam significativamente dos dispositivos reais de emergência. Essa diferença impactou negativamente a preparação dos profissionais, pois os equipamentos de treinamento não simulavam aspectos críticos, como o aumento de calor e a resistência respiratória enfrentados durante o uso real.
Além disso, instrutores e trainees raramente tinham contato prático com os equipamentos autênticos, o que dificultava a transmissão de experiências realistas sobre possíveis dificuldades. A falta de familiaridade com as condições reais de uso pode ter contribuído para a demora e para os erros observados durante o incidente.
Quais recomendações foram sugeridas para aprimorar a segurança?
Diante das falhas identificadas, a investigação recomendou uma série de medidas para fortalecer a segurança operacional em voos comerciais. Entre as principais sugestões estão:
- Adotar treinamentos mais realistas, utilizando equipamentos idênticos aos de emergência, para que a tripulação esteja preparada para as condições adversas de uso.
- Revisar os critérios de certificação e manutenção dos equipamentos de proteção respiratória, tanto em âmbito europeu quanto americano.
- Implementar inspeções sistemáticas e confiáveis para monitorar a funcionalidade dos dispositivos ao longo de sua vida útil.
- Preparar os profissionais para o impacto psicológico e físico de situações de emergência, informando sobre o que esperar ao utilizar os equipamentos reais.
Essas recomendações visam garantir que, em situações críticas, a tripulação possa agir de forma rápida e eficaz, minimizando riscos para passageiros e colegas.
Por que a manutenção dos equipamentos é fundamental para a segurança aérea?
A manutenção adequada dos equipamentos de proteção respiratória é um elemento essencial para a segurança em voos comerciais. O relatório destacou que inspeções recorrentes não estavam sendo suficientes para identificar defeitos, permitindo que dispositivos com falhas permanecessem em uso. A sugestão de testar a funcionalidade dos equipamentos ao final de sua vida útil antes do descarte busca aumentar a confiabilidade e reduzir o risco de falhas em situações reais.
Além disso, a coleta de dados sobre taxas de falha pode contribuir para aprimorar os processos de fabricação, manutenção e treinamento, promovendo um ambiente mais seguro para todos a bordo.
Impactos e perspectivas para a aviação comercial
O incidente ocorrido em 2023 serviu como alerta para companhias aéreas, fabricantes e autoridades reguladoras sobre a importância de alinhar treinamento, manutenção e certificação dos equipamentos de proteção respiratória. O aprimoramento desses processos é fundamental para garantir que a tripulação esteja devidamente preparada para agir em situações de emergência, protegendo a integridade dos passageiros e da própria equipe.
Com a implementação das recomendações sugeridas, espera-se que episódios semelhantes possam ser evitados no futuro, fortalecendo a cultura de segurança na aviação comercial internacional.