Nos últimos dias, o mercado tem assistido a um movimento crescente de empresas de energia buscando sair da bolsa por meio de ofertas públicas de aquisição (OPAs). Esse movimento, em parte impulsionado pela alta nas taxas de juros e pela pressão sobre os preços das ações, tem levantado questões sobre a saúde financeira do setor e a atratividade dos ativos de utilities.
De acordo com Alex André, economista, as OPAs em empresas de energia refletem um cenário desafiador para os negócios. “Com os juros altos e os preços das ações relativamente baixos, as empresas de energia veem essa janela como uma oportunidade para fechar o capital a um preço mais acessível“, afirma André. A situação se torna ainda mais complexa com a alta do mercado de crédito, que torna o financiamento mais caro e desafiador para as empresas que dependem de emissões de ações ou dívida.
Empresas como a Neoenergia e a Serma Energia já protagonizaram movimentos desse tipo recentemente, sendo que, no caso da Neoenergia, a tensão entre os principais controladores da empresa (Iberdrola e Previ) reacendeu as discussões sobre a viabilidade do fechamento de capital. “Quando a empresa começa a operar com ativos tão atrativos, é natural que surjam esses movimentos para tentar adquirir o controle por um preço mais barato“, explica o economista.
OPAs e o impacto no mercado de crédito
André também destaca que o mercado de crédito, atualmente, está em um momento delicado, com juros altos que tornam o financiamento mais caro. “Esse cenário tem levado as empresas a buscar alternativas para reduzir a alavancagem, e a OPA se apresenta como uma saída“, afirma. Além disso, ele alerta que o mercado financeiro enxerga as emissões de ações e a movimentação no setor de energia com uma atenção redobrada, devido à volatilidade das operações.
Outro ponto crítico abordado por André é a governança corporativa das empresas que estão saindo da bolsa. “Embora o fechamento de capital possa aliviar a pressão de governança, isso também cria uma desvantagem para os investidores minoritários, que podem ser prejudicados pelo ‘tag along’, a possibilidade de não receberem as mesmas condições que os controladores“, observa o economista.
Além disso, a falta de transparência e a resistência de algumas empresas em comunicar suas estratégias de forma clara tornam esse movimento ainda mais arriscado para os investidores.
OPAs e o futuro do mercado de energia
O fechamento de capital não é exclusivo de empresas de energia. Outros setores também têm adotado essa estratégia, e o economista aponta que o mercado de utilities está cada vez mais atraente para investidores de private equity e venture capital. “O movimento de saída da bolsa não significa que as empresas estão em dificuldades, mas sim que estão buscando alternativas para crescer sem a pressão do mercado de ações”, finaliza André.
O mercado de energia, portanto, vive um momento de transição, com empresas se aproveitando da janela de oportunidades criada pelas condições atuais do mercado, mas também enfrentando desafios relacionados à transparência, governança e os impactos no longo prazo.