A economista-chefe do Inter, Rafaela Vitória, criticou duramente a postura do governo federal diante do atual cenário fiscal. Segundo ela, a equipe econômica segue insistindo em elevar a arrecadação de impostos como principal forma de enfrentar o desequilíbrio das contas públicas, sem apresentar qualquer esforço concreto para conter os gastos.
“A sinalização é muito negativa quando o governo insiste em resolver o problema fiscal apenas pelo lado da receita”, afirmou Rafaela, em entrevista à BM&C News.
Governo já aumentou a arrecadação, mas resultado segue negativo
Nos últimos dois anos, a arrecadação federal cresceu significativamente, com aumento de aproximadamente 10% acima da inflação em 2024. Mesmo assim, o governo não conseguiu alcançar a meta de superávit primário. Para 2025, a previsão é de um déficit fiscal próximo de R$ 70 bilhões, número que ainda pode ser cumprido sem receitas extras, de acordo com a economista.
“Mesmo que o decreto do IOF seja derrubado, é possível cumprir a meta com empoçamento e controle de despesas. O problema é que o governo não sinaliza nenhum esforço para conter os gastos”, destacou.
Eleições de 2026 influenciam postura do governo
Rafaela alerta que o governo parece mais interessado em garantir uma base de gastos elevada em 2025, de olho no ano eleitoral de 2026. Isso ocorre porque o novo arcabouço fiscal limita o crescimento das despesas com base nos gastos do ano anterior. Assim, quanto mais se gasta agora, maior será o espaço para gastar no futuro.
“O governo quer gastar ao máximo este ano para entrar no próximo com uma base elevada. É uma estratégia arriscada, que ignora os sinais de alerta do mercado”, explicou.
Falta de cortes compromete credibilidade do governo
A economista ressalta que o governo segue sem apresentar nenhuma medida relevante de contenção de despesas, mesmo diante da resistência do Congresso em aprovar novas fontes de arrecadação. “O ajuste fiscal continua concentrado na receita, o que desgasta ainda mais a credibilidade da política econômica”, afirmou.
Para Rafaela Vitória, o governo precisa demonstrar compromisso real com o equilíbrio fiscal, e isso passa necessariamente por cortes de gastos e maior responsabilidade na gestão pública.