Enquanto parte do varejo busca se reinventar no mundo digital, outras marcas apostam no resgate de experiências manuais, afetivas e sustentáveis. A mais recente edição do programa O Varejista, da BM&C News, reuniu três nomes que estão transformando o consumo no Brasil por caminhos distintos, mas igualmente relevantes: Alexandre Facci, CEO da Staedtler Brasil; Rodrigo Garcia, diretor da Petina Soluções; e Davi Secassi, fundador da VendPerto.
Criatividade à mão livre e sustentabilidade no centro do varejo
Alexandre Facci explicou como a centenária marca alemã Staedtler encontrou no Brasil um mercado promissor mesmo em meio à digitalização. “As pessoas buscam experiências offline como forma de bem-estar“, afirmou o executivo, destacando o crescimento da arte como hobby e o aumento da demanda por lápis de cor, livros de pintura e canetas técnicas.
Com produtos que vão do giz de cera infantil até materiais profissionais para artistas, a empresa também aposta fortemente em sustentabilidade. Facci detalhou que 40% do portfólio da marca já utiliza processos como upcycling — que reaproveita resíduos industriais, como sobras da indústria moveleira, para produzir lápis de alta qualidade — e também plásticos reciclados em canetas.
“A sustentabilidade é um caminho sem volta”, disse Facci, que revelou que a empresa já planeja ampliar a linha verde com itens como borrachas ecológicas, acompanhando a crescente demanda do varejo consciente.
Performance no marketplace: estrutura e estratégia são chave para o varejo digital
Na sequência, o especialista em marketplace Rodrigo Garcia, da Petina Soluções, trouxe uma perspectiva digital sobre o varejo online. Com foco em ajudar pequenos e médios varejistas a vender em plataformas como Mercado Livre, Amazon e Shopee, ele destacou a importância de cadastro técnico, campanhas pagas e presença em promoções sazonais.
“Não adianta só estar no marketplace. É preciso trabalhar visibilidade, usar publicidade, entender o algoritmo e participar das grandes campanhas”, afirmou.
Garcia também apresentou o case do Brás, em São Paulo. Tradicionalmente voltadas ao atacado, as lojas da região resistiam à digitalização com receio de competir com seus próprios revendedores. Mas, após os primeiros testes bem-sucedidos, algumas operações passaram a ter até 90% de suas vendas no online, com redução de prazos de recebimento de 120 para até 20 dias. “O marketplace se tornou uma forma de liquidez mais rápida e lucrativa para o varejo tradicional”, explicou.
O avanço dos mercados autônomos no varejo alimentar
Fechando o episódio, Davi Secassi, fundador da VendPerto, explicou como sua empresa está expandindo os chamados mercados autônomos, uma tendência crescente no varejo alimentar — pequenos pontos de venda instalados em condomínios, academias e clubes, onde o consumidor realiza as compras sem nenhum atendente.
O modelo funciona com base na confiança e no monitoramento por vídeo. “A inadimplência gira em torno de 3%, e conseguimos manter a operação saudável apostando em tecnologia e cultura de honestidade”, relatou. A empresa já inaugurou mais de 400 unidades, com 250 ativas atualmente e previsão de abertura de 10 novas por mês.
Secassi também foi direto ao responder sobre a ausência de franquias: “Preferimos manter o controle da operação e garantir a rentabilidade. Expandimos com lojas próprias e estamos abertos a parcerias estratégicas para escalar com saúde dentro do setor de varejo automatizado.”
Três modelos, uma transformação no varejo
Apesar das trajetórias distintas, os três entrevistados apontam para um varejo mais atento às necessidades emocionais, tecnológicas e sustentáveis do consumidor. Da Staedtler, que resgata o valor do lápis como instrumento de bem-estar, até as soluções digitais da Petina e os mercados inteligentes da VendPerto, o programa O Varejista mostrou que a transformação do consumo passa por múltiplas frentes — e todas elas demandam adaptação, criatividade e visão de longo prazo.