O avanço da dívida pública dos Estados Unidos reacendeu discussões sobre a capacidade do Federal Reserve (Fed) de manter o controle da inflação sem comprometer o crescimento econômico. Para o economista Bruno Corano, apesar dos desafios, a economia americana ainda apresenta resiliência suficiente para evitar um cenário de descontrole inflacionário.
“É um risco que sempre existe, mas a economia americana é grande o suficiente e resiliente o bastante para impedir a perda do controle da inflação”, afirmou Corano em entrevista à BM&C News.
Política fiscal e monetária em rota de colisão?
Na visão do economista, o principal desafio do Fed é que nem todos os fatores que afetam a inflação estão sob seu comando. A política fiscal, conduzida pelo Executivo, também precisa colaborar. “O Fed sozinho não resolve. É necessária uma aproximação entre a política fiscal e a monetária”, disse.
O risco de uma inflação persistentemente elevada pode vir justamente da dificuldade em conter os gastos do governo e administrar a trajetória da dívida. Segundo Corano, o momento é delicado, mas ainda não há sinais de ruptura no curto prazo.
Recessão pode ser parte da solução para a inflação
Corano aponta que uma possível recessão nos próximos anos pode ser o fator que ajudará a aliviar a pressão inflacionária. “Acho que mais cedo ou mais tarde os EUA entrarão em um processo recessivo. Isso ajudaria a sufocar a inflação e abriria espaço para cortes de juros”, avaliou.
Com a economia esfriando, os juros poderiam ser reduzidos, o que também contribuiria para tornar mais barata a rolagem da dívida americana. “A instabilidade gerada por uma recessão tende a levar o mundo novamente ao dólar, o que ajuda a estabilizar o cenário”, completou.
Corte de gastos internacionais entra no radar
Além das medidas econômicas internas, Corano destacou o debate crescente nos EUA sobre a necessidade de revisão nos repasses internacionais. Ele citou uma recente fala do senador Mark Rubio, que questionou os critérios para envio de recursos a países sem relação direta com os interesses americanos. “É preciso fechar a torneira”, disse Corano, ao comentar que parte do alívio fiscal também deve vir de cortes nos gastos externos.
Na avaliação de Bruno Corano, o caminho para estabilização econômica e controle da inflação passa por uma combinação de recessão controlada, ajuste fiscal e reavaliação dos compromissos internacionais dos EUA. “Esse ciclo pode estabilizar a economia por uma década ou duas, mas caberá ao Executivo, seja qual for o presidente, reorganizar a casa para garantir sustentabilidade no longo prazo”, concluiu.