Em um cenário dominado por métricas de vaidade, excesso de estímulos e busca frenética por conversão, Luiz Tastaldi, fundador da WeDoo, defende que o maior diferencial competitivo das marcas está na capacidade de ser, e não apenas vender. Em entrevista ao programa Mercado & Beyond, da BM&C News, ele alertou: “Hoje, o marketing virou emissor de nota fiscal. Mas o que faz vender para sempre é a marca que você tem, não o produto“.
Para Tastaldi, a digitalização transformou o marketing em uma corrida de curtíssimo prazo, o que enfraqueceu a construção de posicionamento duradouro. “As marcas passaram a gritar para aparecer. Mas quem sussurra, permanece. A construção silenciosa é mais poderosa que a gritaria do algoritmo“, afirmou.
Marketing é cultura contínua, não campanha pontual
Ao longo da conversa, o especialista enfatizou que a autenticidade é o novo luxo em um mundo de conteúdo pasteurizado. Ele criticou o imediatismo e a superficialidade de estratégias que priorizam apenas funis de venda. “A marca que sobrevive é aquela que é fiel a quem ela é. A cultura permanece; a estratégia muda. E precisa mudar o tempo todo.”
Tastaldi também trouxe exemplos clássicos. Citou a Apple, a Nike, a Brastemp e até o McDonald’s como marcas que souberam vender conceitos — não produtos. “A Apple não te diz qual é o processador. Ela te inspira a pensar diferente. A Brastemp não precisa explicar seus diferenciais, porque você já acredita que não existe nada igual”, disse.
Marketing com propósito gera soft power e influencia além do consumo
Ao ser questionado sobre o papel das marcas em um capitalismo cada vez mais simbólico e comportamental, Tastaldi foi direto: “Marcas que têm conceito forte moldam cultura, comportamento e até decisões públicas. Isso é soft power.” Para ele, pequenas marcas como a Alo Yoga já exercem esse poder ao alterar a percepção de bem-estar e afetar o consumo global — inclusive mudando a forma como indústrias inteiras se posicionam.
Marketing deve traduzir identidade — e isso começa pelo CEO
O especialista defende ainda que os líderes das empresas, especialmente founders e CEOs, devem representar com clareza a essência da marca. “Influenciar não é vaidade, é identidade. O líder precisa deixar claro quem ele é para a empresa saber para onde está indo.”
No encerramento, Tastaldi fez um apelo direto ao mercado: “Nos próximos dois anos, o mundo vai mudar mais do que mudou nos últimos cem. O que você faz pode ser substituído. Quem você é, não. Invista na sua marca agora.”