A partir deste mês de junho, a conta de luz dos brasileiros ficará mais cara com a entrada em vigor da bandeira vermelha patamar 1. A medida, que sinaliza um aumento no custo da energia elétrica, foi tomada devido à redução expressiva no volume de água dos principais reservatórios do país — especialmente na região Sul, que opera com apenas 35,69% da capacidade, o nível mais baixo entre os subsistemas monitorados pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).
Com menos água disponível para geração hidrelétrica, o sistema elétrico nacional passa a depender mais das usinas termelétricas, que têm custo de operação mais elevado. Segundo o ONS, a projeção da Energia Natural Afluente (ENA) — indicador que mede o potencial de geração com base na água que chega aos reservatórios — está abaixo da média histórica em todas as regiões do país.
No Sul, a ENA para junho deve atingir 86% da média esperada. Nas demais regiões, a situação é ainda mais preocupante: Sudeste/Centro-Oeste (75%), Norte (57%) e Nordeste (29%). Esses dados reforçam a tendência de agravamento no cenário hidrológico, com menos água chegando aos reservatórios do que o normalmente esperado para o período.
Conta de luz mais cara: os impactos na inflação
A mudança da bandeira tarifária de energia de amarela para vermelha patamar 1 já era esperada pelo mercado e deve impactar o IPCA de junho em 0,21 ponto percentual (21 pontos-base), segundo estimativas da estrategista de inflação da Warren Investimentos, Andrea Ângelo. “A energia elétrica pesa em torno de 4% no IPCA. Especificamente neste mês, estimamos um impacto de 3,78% ”, explicou.
Com os níveis baixos dos reservatórios — especialmente na região Sul — e o acionamento das termelétricas, a pressão sobre os preços de energia se intensificou. A equipe da Warren já havia antecipado essa movimentação com base nas simulações semanais de PLD (Preço de Liquidação das Diferenças) e nos dados da CCEE.
Impacto será pontual, sem alterar expectativas para 2025
Apesar do peso elevado da energia elétrica no índice de inflação, Andrea acredita que o efeito será restrito ao mês. “A expectativa de inflação para o ano só muda se houver alteração na previsão de bandeira para dezembro, que é o mês que fecha a inflação anual. Por enquanto, isso não aconteceu”, pontuou.
Para a especialista, o Banco Central não deve mudar o ritmo de cortes da Selic com base nesse aumento pontual da conta de luz. “Não há uma ligação direta entre a bandeira de energia de junho e a decisão de política monetária.”
Repasses indiretos e núcleos da inflação
Segundo Andrea, o encarecimento da conta de luz pode gerar repasses indiretos em setores como alimentação fora do lar e serviços, mas os efeitos são difíceis de mensurar.. “Existe repasse, mas ele depende da duração do choque. Se a alta for pontual, o núcleo da inflação tende a não ser afetado significativamente.”
Ela ressalta que a volatilidade sazonal do período seco já é esperada pelos consumidores e pelo mercado, o que reduz o risco de um efeito duradouro nos núcleos inflacionários.
















