O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil registrou alta de 1,4% no primeiro trimestre de 2025, na comparação com o trimestre anterior, segundo dados divulgados nesta quinta-feira pelo IBGE. O resultado, já ajustado sazonalmente, foi impulsionado pelo forte desempenho da Agropecuária, que cresceu 12,2% no período — beneficiada por uma safra robusta e ganhos de produtividade.
Além do agronegócio, os Serviços, que representam cerca de 70% da economia, cresceram 0,3%, enquanto a Indústria mostrou estabilidade, com leve recuo de 0,1%.
Na comparação anual, o PIB brasileiro avançou 2,9% frente ao 1º trimestre de 2024, refletindo um cenário de crescimento disseminado entre os setores produtivos, com destaque para:
- Agropecuária: +10,2%
- Indústria: +2,4%
- Serviços: +2,1%
Um dos principais destaques positivos do trimestre foi a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que cresceu 3,1% na comparação com o trimestre anterior e avançou 9,1% em relação ao mesmo período de 2024. O indicador, que mede o investimento em máquinas, equipamentos e construção, foi puxado pela retomada da construção civil, importações de plataformas de petróleo e o crescimento da produção nacional de bens de capital e softwares.
A taxa de investimento atingiu 17,8% do PIB, acima dos 16,7% registrados no primeiro trimestre de 2024, apontando para uma retomada mais consistente da capacidade produtiva.
PIB no radar: Consumo das famílias cresce mesmo com juros altos
Apesar do cenário de juros ainda elevados, a Despesa de Consumo das Famílias cresceu 1,0% no trimestre e 2,6% na comparação anual. O avanço foi influenciado pela expansão da massa salarial real e do crédito. Já o Consumo do Governo mostrou estabilidade (0,1%) frente ao trimestre anterior e subiu 1,1% em relação ao 1º trimestre de 2024.
Setor externo: importações aceleram
No setor externo, o destaque foi o crescimento expressivo das importações, que subiram 5,9% frente ao 4º trimestre de 2024 e 14,0% na comparação anual — refletindo o aumento na demanda por equipamentos de transporte, máquinas e produtos químicos. Já as exportações cresceram 2,9% no trimestre e 1,2% em relação ao ano anterior.
Serviços mantêm tendência positiva para o PIB
Entre as atividades de serviços, destacaram-se:
- Informação e comunicação: +3,0% no trimestre / +6,9% no ano
- Atividades imobiliárias: +0,8% no trimestre / +2,8% no ano
- Comércio: +0,3% no trimestre / +2,1% no ano
Embora a indústria como um todo tenha registrado variação nula, houve desempenho desigual entre seus segmentos. As Indústrias de Transformação recuaram 1,0%, impactadas por redução na produção de bens duráveis. A Construção também caiu (-0,8%), interrompendo sequência de altas. Em contrapartida, as Indústrias Extrativas avançaram 2,1% e o setor de eletricidade, gás e saneamento cresceu 1,5%.
Resultado acumulado do PIB: alta de 3,5% em quatro trimestres
Nos quatro trimestres encerrados em março de 2025, o PIB acumulou alta de 3,5%, refletindo crescimento sustentado da economia. Nesse período, o Valor Adicionado subiu 3,2%, com expansão em todos os grandes setores:
- Agropecuária: +1,8%
- Indústria: +3,1%
- Serviços: +3,3%
A taxa de poupança também avançou, alcançando 16,3%, frente aos 15,5% registrados um ano antes.
Opinião: Desempenho não altera projeções do PIB
O estrategista-chefe da RB Investimentos, Gustavo Cruz, avalia que, embora o PIB do primeiro trimestre tenha vindo ligeiramente abaixo da expectativa do mercado — com alta de 1,4% frente à projeção de 1,5% — os dados ainda reforçam um cenário de crescimento sustentado. Para ele, o desempenho não altera a projeção de crescimento de 2,5% para o ano, com expectativa de expansão no segundo trimestre e possível estagnação ou leve retração no segundo semestre. Cruz destacou o forte avanço do agronegócio como o principal vetor positivo, além da alta relevante na formação bruta de capital fixo, que elevou a taxa de investimento para 17,8% do PIB, “uma direção correta, ainda que abaixo do ideal para padrões de países emergentes”. Por outro lado, apontou a queda na indústria como um ponto de atenção, embora espere uma performance mais favorável no segundo trimestre. Em sua visão, os dados são “bons” e o setor agropecuário tende a contaminar positivamente outras áreas da economia ao longo do ano, por meio do consumo e da geração de renda.
Já para Leonardo Costa, economista do ASA, o crescimento de 1,4% no PIB do primeiro trimestre veio praticamente em linha com as expectativas, sinalizando que o aumento da massa salarial real e a expansão do crédito, mesmo em um ambiente de juros ainda elevados, seguem sustentando o consumo doméstico. O economista destacou o forte impacto do agronegócio no desempenho do período, com culturas como soja, milho e arroz crescendo em dois dígitos e contribuindo com quase 1 ponto percentual na variação trimestral. Do lado da demanda, Costa chamou atenção para a recuperação do consumo das famílias e o avanço da formação bruta de capital fixo, que reflete um viés pró-investimento, especialmente com a importação de plataformas de petróleo e o crescimento em software. Para o restante do ano, o economista projeta um crescimento de 2,2%, com viés de alta, embora preveja que os próximos trimestres devam mostrar ritmo mais modesto de expansão.