O governo federal estuda a criação de uma estatal do setor aéreo para atuar em meio às dificuldades enfrentadas pelas companhias que operam no Brasil. A proposta surge num contexto de retração do setor, fusões em andamento e instabilidade financeira, especialmente com a Azul em processo de recuperação judicial nos Estados Unidos.
Estatal do setor aéreo: ideia repete erros do passado com empresas que faliram
Para o economista Bruno Musa, sócio da Acqua Vero, a proposta representa um retrocesso. “Já tivemos experiências fracassadas com empresas aéreas estatais, como Transbrasil, VASP e Varig, que terminaram em falência mesmo com apoio do governo”, afirmou. Ele lembra que essas companhias acumularam prejuízos bilionários antes de desaparecerem do mercado.
O economista aponta que o setor já apresenta desafios estruturais. “Você tem custos em dólar e receita em real. O combustível, leasing de aeronaves e manutenção são dolarizados, enquanto as tarifas são em reais. Essa conta não fecha”, explica. Para ele, até empresas privadas, mais ágeis e eficientes, sofrem para gerar lucro nesse ambiente. Uma estatal do setor aéreo, com menos flexibilidade e mais ingerência política, enfrentaria obstáculos ainda maiores.
Em vez de criar uma estatal do setor aéreo, governo deveria abrir o mercado
Musa propõe uma alternativa clara: abrir o mercado aéreo brasileiro. “Por que não permitir a entrada de 50 companhias? Por que não derrubar as barreiras regulatórias da ANAC e facilitar o acesso ao mercado?”, questiona. Ele acredita que o aumento da concorrência beneficiaria diretamente os consumidores, com mais opções e preços mais baixos.
Além das ineficiências operacionais, o economista também chama atenção para o impacto fiscal. “Não há espaço no orçamento para uma nova estatal. Isso significaria mais cabide de empregos, mais uso político de verbas públicas e menos responsabilidade com o contribuinte”, alerta. Segundo ele, a criação de uma estatal do setor aéreo seria mais uma forma de centralizar recursos e ampliar o controle sobre o dinheiro público.
Estatal do setor aéreo traria mais problemas que soluções
Diante de um setor já fragilizado e de um cenário fiscal apertado, a possível criação de uma estatal do setor aéreo é vista por Bruno Musa como uma decisão equivocada. Ele defende medidas que aumentem a eficiência e a competitividade do setor, e alerta para os riscos de repetir erros do passado com o uso ineficaz do dinheiro público.
Ideia de estatal do setor aéreo é “desespero puro” classifica especialista
Um especialista ouvido pela BM&C News, que participou de reuniões recentes na Secretaria de Aviação Civil, classificou a proposta de criação de uma estatal do setor aéreo como “desespero puro” diante da crise atual. Segundo ele, a saída da Azul de rotas regionais menos viáveis deve abrir um vácuo que nem LATAM nem GOL conseguirão preencher.
Para esse interlocutor, a solução mais viável no curto prazo seria a compra de capacidade — ou seja, o financiamento público de voos operados por aeronaves menores, viabilizados por governos locais que queiram manter conexões fora das capitais. No entanto, ele alerta que há poucas empresas e aeronaves disponíveis para atender essa demanda.