O cenário fiscal brasileiro continua sendo uma das maiores preocupações entre economistas e analistas políticos. Para Miguel Daoud, comentarista da BM&C News, o problema central da economia brasileira não está apenas na arrecadação, mas na incapacidade do governo de controlar os gastos públicos.
“Temos uma dívida praticamente impagável. O governo segue obcecado em arrecadar mais, mas ignora o problema real, que é o excesso de gastos. Não há seriedade para tocar reformas estruturantes”, criticou Daoud.
Segundo ele, a ausência de uma reforma administrativa mostra que o Executivo não está disposto a mexer em privilégios e estruturas ineficientes do Estado. “Mesmo sabendo onde está o problema, o governo não o enfrenta. A política fiscal continua desequilibrada, e o país paga um alto preço por isso.”
Haddad isolado no governo e sem apoio interno
Fernando Haddad, ministro da Fazenda, foi nomeado como figura técnica e de confiança de Lula para liderar a política econômica. No entanto, Daoud aponta que Haddad está “politicamente isolado” e sem capital para implementar as mudanças que defende.
“Ele foi colocado como vitrine, mas está sozinho. É um escudo do projeto de poder do presidente. Internamente, ele enfrenta resistência e falta de apoio. Externamente, não consegue articular com o Congresso”, afirmou o analista.
A dificuldade em aprovar medidas fiscais e o desgaste provocado por promessas não cumpridas, como cortes de gastos que não se efetivaram, minaram a credibilidade do ministro. “A narrativa de responsabilidade fiscal não se sustenta sem execução. O mercado não compra mais esse discurso.”
Marina Silva: prestígio internacional, impasses no governo
Outro nome em evidência é o de Marina Silva, ministra do Meio Ambiente. Daoud foi enfático ao afirmar que, apesar de seu reconhecimento internacional, ela não deveria estar à frente do ministério. O motivo: sua visão ambientalista, segundo ele, é incompatível com as urgências do Brasil em infraestrutura.
“O Brasil tem centenas de obras paradas por falta de licenças ambientais. Há regiões no Norte e Nordeste em que rodovias e ferrovias estão bloqueadas porque encontraram uma arara ou por passarem próximas de terras indígenas”, comentou.
Daoud também destacou a incoerência de se barrar obras em áreas dominadas por garimpeiros e criminosos, enquanto as comunidades indígenas vivem em situação precária. “Essa mentalidade ambientalista precisa ser confrontada com a realidade de um país que precisa crescer. Não se trata de destruir a natureza, mas de permitir que o Brasil avance com responsabilidade.”
Episódio no Senado e desgaste político
Sobre o embate recente envolvendo Marina Silva no Congresso, Daoud condenou os ataques verbais à ministra, mas ponderou que o desgaste político é reflexo de um governo que não protege suas lideranças.
“O que aconteceu no Senado foi lamentável, dos dois lados. Mas Marina está exposta porque não tem sustentação. Ela representa algo que não tem respaldo político no Brasil de hoje. Não é por ser mulher, mas por representar um modelo de gestão que trava o país.”
Ele defende que Marina Silva deixe o cargo: “Ela tem qualidades, tem uma trajetória admirável, mas não deveria estar no ministério. O Brasil precisa de resultados, não de simbolismos.”
Falta de articulação e ausência de projeto de Estado
Para Daoud, o maior problema do governo Lula é não ter um projeto de Estado de longo prazo. “Tudo gira em torno da manutenção do poder. Por isso, os ministros técnicos acabam servindo apenas como escudos. Eles não são blindados porque não fazem parte da engrenagem política real.”
A consequência, segundo ele, é um Executivo paralisado, incapaz de avançar com as reformas necessárias para destravar o crescimento. “O país continua patinando, e o custo do Brasil só aumenta. Enquanto isso, as obras ficam paradas, a dívida cresce, e a confiança dos agentes econômicos se deteriora.”












