A inflação que emergiu no cenário pós-pandemia não é mais um fenômeno simples de ser enfrentado. Para Alexandre Espírito Santo, economista da Way Investimentos, o atual ambiente inflacionário global se tornou estruturalmente mais complexo, e os bancos centrais do mundo todo terão dificuldades em devolver os preços ao centro das metas.
“O cenário hoje exige muito mais do que política monetária tradicional. Não basta subir os juros e esperar o efeito deflacionário. Essa nova inflação é resultado de desequilíbrios nas cadeias produtivas, pressões geopolíticas e guerras tarifárias que afetam diretamente os custos das empresas”, afirma.
Um dos fatores destacados pelo economista é a decisão do presidente Donald Trump de elevar tarifas sobre importações, o que acaba sendo repassado ao consumidor. “Medidas como essa são potencialmente inflacionárias. As empresas, pressionadas pelos custos, repassam os aumentos. Isso se torna um novo componente estrutural da inflação global”, diz Espírito Santo.
Inflação no radar: juros devem permanecer altos por mais tempo
Na avaliação do economista, os bancos centrais estão conscientes de que as taxas de juros atuais vieram para permanecer em um novo patamar, muito acima da média histórica dos últimos anos. “O problema, agora, é o timing para começar a reduzir os juros sem correr riscos inflacionários. A atuação do Fed é um exemplo: eles tentaram afrouxar a política monetária e recuaram quando perceberam que a inflação não estava sob controle”, explica.
Além das incertezas econômicas, Espírito Santo também destaca o peso político nas decisões do Federal Reserve, especialmente com a crescente pressão exercida por Donald Trump. “O Fed está sob forte escrutínio político, o que complica ainda mais o cenário. A instituição não pode tomar decisões com base em apostas, precisa ser cautelosa”, avalia.
Ambiente desafiador com inflação persistente exige cautela nas decisões
Para o economista, o momento atual exige uma mudança de mentalidade por parte dos formuladores de política monetária. “A inflação não é mais transitória. O ambiente é mais volátil, as causas são difusas e os riscos, maiores. Não dá para esperar que velhas fórmulas resolvam novos problemas.”
Na visão da Way Investimentos, essa complexidade torna mais difícil antecipar os movimentos dos bancos centrais. O espaço para cortes de juros existe, mas depende da consolidação de um cenário mais previsível — o que, segundo Espírito Santo, ainda está distante.
















