Apesar do impacto inicial causado pelo anúncio de aumento do IOF, o mercado brasileiro recuperou parte do otimismo nos dias seguintes à decisão. Para o diretor de investimentos da Nomos, Beto Saadia, essa recuperação foi sustentada por fatores externos e pela natureza do perfil de dívida das companhias listadas na B3.
“O mercado até recobrou o otimismo. Mas o ruído político e econômico gerado deixou, sim, marcas”, afirmou Saadia em entrevista à BM&C News.
Fluxo estrangeiro sustentou o mercado, mesmo com ruído interno
Segundo Saadia, o forte fluxo de capital estrangeiro direcionado a países emergentes — especialmente ao Brasil — ajudou a conter maiores perdas nos ativos locais, mesmo com o ruído provocado pela medida do IOF.
“Quem operou mercado sabe que contra fluxo global, há pouco argumento. E esse fluxo segue forte para emergentes”, destacou.
O especialista também explicou que, mesmo de férias, foi possível observar o comportamento dos mercados globais e perceber que o otimismo externo se sobrepôs às preocupações internas.
Empresas listadas têm menor exposição ao IOF
Outro fator que limitou os impactos do IOF, segundo Saadia, foi o perfil de endividamento das companhias com ações negociadas na Bolsa. Ele explicou que muitas dessas empresas têm acesso a instrumentos de crédito mais sofisticados e com menor tributação.
“O impacto direto é limitado porque essas empresas utilizam veículos como FIDC, CRIs, CRAs e debêntures incentivadas, que pagam menos IOF ou são isentos”, afirmou.
Para Saadia, o verdadeiro efeito da medida está no campo macroeconômico, com potenciais consequências para empresas menores e que não têm acesso ao mercado de capitais.
“O impacto do IOF atinge mais empresas que não têm acesso ao mercado de capitais. São essas que sentem o peso do crédito mais caro, e não as grandes listadas na B3”, explicou.
Essa diferenciação é importante para entender por que a Bolsa de Valores acabou sendo pouco afetada, enquanto a economia real pode sofrer mais com a medida.
Ruído na comunicação continua preocupando o mercado
Apesar da reversão da medida, o estrago na percepção de credibilidade foi feito, segundo o diretor da Nomos. O episódio reforça como a falta de clareza nas decisões governamentais pode gerar instabilidade, mesmo que a medida em si tenha efeitos limitados.
“O problema foi a forma. O governo anunciou e voltou atrás em pouco tempo. Isso gera insegurança e ruído, principalmente para o investidor institucional”, concluiu.