Após dois dias de negociações em Genebra, Estados Unidos e China anunciaram um acordo que prevê a redução das tarifas comerciais recíprocas de 125% para 10% durante um período inicial de 90 dias. A medida representa uma trégua importante na escalada das tensões comerciais entre as duas maiores economias do mundo, que vinha afetando o comércio global e gerando instabilidade nos mercados.
O acordo foi anunciado nesta segunda-feira (12) pelo secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, e pelo vice-premiê chinês, He Lifeng, que também revelaram a criação de um canal permanente de diálogo econômico entre os dois países. A iniciativa busca garantir mais previsibilidade e reduzir o risco de novas disputas tarifárias no curto prazo.
Em nota, o representante do Comércio dos EUA destacou a rapidez com que as negociações evoluíram, o que indicaria que as divergências entre os dois lados “não eram tão grandes quanto se imaginava”. A declaração foi interpretada por analistas como um sinal de que ambas as potências estão dispostas a buscar soluções pragmáticas em meio a desafios econômicos internos.
A trégua tarifária é válida por 90 dias e deverá ser revista ao final do período. Durante esse tempo, equipes técnicas dos dois países devem avançar em temas sensíveis como subsídios industriais, propriedade intelectual e práticas de comércio digital.
Acordo sinaliza pausa, mas não o fim do protecionismo
Para o especialista em análise macroeconômica Fabio Fares, o acordo tarifário entre EUA e China representa um alívio importante para os mercados, mas está longe de ser uma solução estrutural na política comercial americana. “A trégua de 90 dias reduz a temperatura da disputa, mas mantém intacto o núcleo do protecionismo dos EUA. A manutenção de tarifas elevadas em setores estratégicos e a continuidade de medidas como o fim da isenção para pequenas encomendas mostram que o foco continua sendo o enfrentamento geopolítico com a China”, afirma.
Em resumo, Fares destaca que “o impacto no curto prazo é positivo para o humor dos mercados, mas no médio prazo, o cenário é mais desafiador do que parece. A mensagem por trás da trégua é que o governo Trump continuará a usar tarifas como instrumento geopolítico, e isso significa que o “risco-China” continua sendo um eixo estrutural do mercado.”
Pausa na guerra tarifária e os impactos nos setores
Para Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, o acordo representa uma sinalização positiva para o mercado financeiro global. “A trégua tarifária reduz volatilidade, diminui a incerteza sobre uma possível recessão nos Estados Unidos e cria um ambiente mais favorável para o Federal Reserve eventualmente cortar os juros. Isso tende a facilitar também o trabalho do Copom no Brasil”, afirma.
Segundo ele, o dólar pode se fortalecer levemente com a melhora na percepção de risco global, o que ajuda a conter pressões inflacionárias em países emergentes. Cruz observa, no entanto, que alguns setores específicos — como calçados exportados para os EUA ou o agronegócio brasileiro com foco na China — podem sentir os efeitos de curto prazo dessa mudança nos fluxos comerciais, principalmente se estavam se beneficiando de tarifas mais altas impostas aos concorrentes.