A escalada protecionista imposta pelos Estados Unidos sob a gestão de Donald Trump provoca efeitos negativos na economia global, segundo relatório divulgado nesta quarta-feira (16) pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD). A entidade reduziu a projeção de crescimento mundial para 2025 para 2,3%, abaixo do patamar de 2,5%, considerado o limiar técnico de uma recessão global. Além disso, também reduziu a projeção de crescimento para o Brasil. A organização atribui o enfraquecimento do cenário econômico à fragmentação comercial, instabilidade financeira e à elevação das incertezas provocadas pelas tarifas unilaterais dos EUA.
Na avaliação de Agostini, economista-chefe da Austin Rating, a intensificação da guerra comercial entre Estados Unidos e China adiciona um elemento de risco relevante ao cenário. “Ainda não conseguimos dimensionar os efeitos dessa queda de braço, mas a cadeia de suprimentos global já sente os impactos”, afirmou. O economista citou medidas recentes, como a determinação do governo chinês para que suas aéreas suspendam compras da Boeing e as novas restrições dos EUA à exportação de chips da Nvidia e da ASML. Esses movimentos, segundo ele, aumentam a volatilidade internacional e podem afetar diretamente países emergentes como o Brasil.
Desaceleração global sim, recessão ainda não
Apesar das incertezas, Agostini avalia uma recessão econômica global 2025 pouco provável. Para ele, o cenário é de desaceleração coordenada, com países ajustando suas estratégias para minimizar os impactos das tensões comerciais. “A China e a Índia seguem como importantes locomotivas da economia global, além de já ativarem mecanismos de compensação com parceiros na Ásia”, explicou. Segundo o economista, a estimativa é que o mundo cresça algo entre 2% e 2,5%, abaixo dos anos anteriores, mas sem entrar em contração. A leitura, portanto, é de cautela, com atenção redobrada às decisões de política externa das grandes potências.
Brasil enfrenta desaceleração
O relatório da UNCTAD também revisou para baixo a previsão de crescimento do PIB brasileiro em 2025, projetando alta de 2,2% – ritmo inferior aos 3,4% registrados no ano passado. Entre os fatores apontados estão os juros elevados, a volatilidade do câmbio, a redução no fluxo de capitais para mercados emergentes e o enfraquecimento da demanda externa. A entidade afirma que o impulso de 2024, quando empresas anteciparam compras por temor de tarifas, perdeu força e abriu espaço para uma possível estagflação: combinação de crescimento fraco com inflação persistente.
Crescimento do Brasil pode ser inferior ao previsto
Embora o governo projete um crescimento de até 2,5% para o PIB brasileiro em 2025, a Austin Rating trabalha com uma estimativa mais cautelosa, entre 0,7% e 0,8%, segundo Agostini. “O número está mais otimista apenas por estar na faixa superior das projeções”, explicou, destacando que o cenário global aponta para desaceleração, o que tende a limitar o crescimento da economia brasileira. Agostini também lembrou que os efeitos da política monetária ainda restritiva no país seguem impactando a atividade econômica e devem continuar ao longo do ano.
OMC prevê retração no comércio global
A Organização Mundial do Comércio (OMC) também emitiu um alerta nesta quarta, ao revisar sua estimativa para o comércio global de mercadorias em 2025 de um crescimento de 3,0% para uma queda de 0,2% – o pior desempenho desde a pandemia. A UNCTAD, por sua vez, defende que países em desenvolvimento busquem maior integração comercial regional e ampliem acordos de cooperação Sul-Sul. Para o Brasil, isso significa diversificar parcerias com América Latina e Ásia, como forma de mitigar os impactos da instabilidade global e reduzir a dependência de mercados tradicionalmente dominantes.