
Imaginar a vida sem energia elétrica, principalmente no nosso dia a dia, é uma tarefa difícil. Na história do nosso país, há casos históricos de apagões variados. Desde o mais recente em 2020, no Amapá até o maior apagão do Brasil em 1985, segundo a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica). No entanto, o mais duradouro e ainda presente na memória dos brasileiros é o de 2001.
Este blecaute durou longos 9 meses. O apagão — racionamento obrigatório, para as indústrias e o comércio, começou em 1º de julho daquele ano. Para as famílias, as restrições foram obrigatórias a partir de 4 de junho, ocorridas no último ano do segundo mandato presidencial do então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
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Agora, esse fantasma do passado voltou a rondar o país: o risco de apagão elétrico. O conceito, porém, pode ser desconhecido da população mais jovem, que não tem lembranças ou nem chegou a viver os períodos de racionamentos elétricos em território nacional.
Geralmente a principal causa de um apagão está associada ao curto-circuito nas linhas de transmissão, causado geralmente por raios. Mas também pode ser provocado por sobrecargas, pane parcial ou total do sistema que trata da produção, geração ou na distribuição de hidrelétricas.
Além disso, há também racionamento de energia — uma determinação do governo para a redução compulsória do consumo de energia elétrica, quando o sistema não tem condições de atender à totalidade da demanda devido a algum problema, como a falta de chuvas decorrente de uma crise hídrica.
Crise hídrica
Um tema que preocupa o CMSE (Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico), que reúne gestores do setor. O entendimento é de que se as chuvas continuarem escassas, o Brasil terá dificuldade em produzir eletricidade nas hidrelétricas.
Segundo cálculo do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE Advisory) com dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), o Brasil está próximo de enfrentar um blecaute ainda em 2021. O apagão deve acontecer se a MLT (Média de Longo Termo) de chuva ficar abaixo dos 61,5% no ano. A média do 1º semestre fechou em 66%. Nota do ONS mostra que o percentual pode cair para 62%.
O percentual do MLT é utilizado pelo ONS para monitorar o histórico de chuva no país desde 1931. Se estiver abaixo dos 100%, significa que chove menos do que a média histórica no país. O índice de chuva de 2021 é o menor em 20 anos. Ao mesmo tempo, o consumo energético até abril alcançou 169 mil GW, o maior desde 2004, segundo o ONS.
O cálculo do CBIE considera um crescimento do PIB de 2,7%, menor do que a projeção mais recente do Banco Central (4,6%). Em nota, o Ministério de Minas e Energia afirmou que a análise do ONS leva em conta um crescimento de 3% da economia e não indica déficits de energia ou potência. Cita o plano do governo para redução de vazão das usinas.
Em maio, o governo federal publicou, um alerta de emergência hídrica para o período de junho a setembro em cinco estados: Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná. É o primeiro alerta dessa natureza em 111 anos de serviços meteorológicos no país.
Segundo dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), em maio de 2021, não foram observados valores significativos de precipitação, comportamento típico da estação seca, condição que deverá se manter nos próximos meses, especialmente na região Sudeste/Centro-Oeste.
Ministério de Minas e Energia afirma não haver risco de apagão
Atualmente, o Brasil vive a maior crise hídrica em 91 anos. O Ministério de Minas e Energia acompanha a situação por meio de um comitê especial.
O ministro da Pasta, Bento Albuquerque, afirmou reiteradamente que o país não corre risco de ter racionamento de energia. No dia 28 de junho, chegou a fazer um pronunciamento em rede nacional para falar sobre a crise hídrica.
Para evitar o colapso das hidrelétricas, o governo precisou acionar as termelétricas a diesel, mais poluentes e com um custo maior de produção. Além disso, diminuiu a vazão de parte das hidrelétricas.
Como consequência, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) decidiu na terça-feira (29 de junho) reajustar a bandeira tarifária 2 –a mais cara do sistema de bandeiras– em 52,1%. Com o aumento, a cada 100 quilowatts-hora consumidos serão pagos R$ 9,49 extras. A alta vale para julho e pode subir novamente em agosto.
A Aneel também anunciou que pretende firmar parceria com o governo federal para deslocar o horário de consumo das indústrias para fora do horário de pico.
A Ana (Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico) também adotou uma série de medidas para preservar as principais bacias hidrográficas.
Em entrevista exclusiva à BM&C News, o consultor de investimentos, Thiago Ribeiro, analisa empresas do setor elétrico e se devem sofrer impactos com a crise hídrica. “Importante destinguir quem sofre com possível racionamento. Há setores que não sofrem”. Veja, abaixo, um trecho da entrevista.
Consumo
O consumo energético até abril de 2021 alcançou 169 mil GW, o maior valor desde 2004, segundo o ONS. O país vinha em alta do consumo de energia desde 2015. Em 2019, alcançou 482 mil GW. Com a pandemia e a piora econômica, o valor diminuiu para 475 mil GW, antes da retomada do aumento em 2021.
Segundo Alexei Vivan, diretor-presidente da Associação Brasileira de Companhias de Energia Elétrica (ABCE), o crescimento do consumo de energia e o baixo nível de chuva formam o “maior perigo de desabastecimento” também para 2022.
Para ele, o início do período úmido, no final de 2021, será essencial para retomar os reservatórios. Entretanto, ainda não é possível saber o nível de chuva no país.
“A sorte é que estamos com a economia ainda em aquecimento“, afirmou. Para ele, a retomada do consumo gera um risco de situação crítica no fim de 2021 ao ponto do governo precisar “desligar” usinas hidrelétricas para preservar alguns reservatórios.
Maiores blecautes no país
- Apagão de 2020
No último dia 3 de novembro de 2020 a principal subestação do estado do Amapá pegou fogo, causando o corte no fornecimento de energia para 90% da população do estado. Dos 16 municípios do estado, 13 tiveram o abastecimento de energia interrompido, ocasionando o famoso apagão. O acontecido deixou cerca de 765 mil pessoas sem energia elétrica por mais de 10 dias.
O caso foi tão grave que as eleições municipais da capital Macapá tiveram de ser adiada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Causas do acidente na subestação ainda estão sendo investigadas.
- Apagão de 2018
Antes do Amapá, o último apagão no Brasil aconteceu no dia 21 de março de 2018 e atingiu todas as regiões do país, tendo maior intensidade e duração no Norte e Nordeste. Os estados de Alagoas, Amapá, Amazonas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pará, Paraíba, Piauí, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Rondônia, Sergipe e Tocantins foram os mais prejudicados.
O blecaute se deu em decorrência de uma falha na linha de transmissão ligada à usina de Belo Monte, no Pará, que não suportou um aumento de carga. No total, 70 milhões de pessoas foram afetadas.
- Apagão de 2013
Aconteceu logo após queimada realizada em uma fazenda na cidade Canto do Buriti, no Piauí. O apagão foi no dia 28 de agosto de 2013 e atingiu nove estados nordestinos.O blecaute provocou o desligamento de duas linhas de transmissão paralelas e totalizou um corte de carga de 10.900 megawatts.
- Apagão de 2011
Uma falha na subestação Luiz Gonzaga, localizada no município de Jatobá, divisa do Pernambuco com a Bahia, resultou em 90% do Nordeste sem luz da noite do dia 3 de fevereiro até a madruga do dia 4 deste ano. Apenas o Maranhão ficou de fora. À época, 47,7 milhões de pessoas foram afetadas.
- Apagão de 2009
Aconteceu no dia 10 de novembro de 2009 e atingiu cerca de 90 milhões de pessoas. O motivo foi decorrente de uma falha nas três linhas de transmissão provenientes da Usina Hidroelétrica de Itaipu.
Vale recordar que além do Brasil, 90% do território do Paraguai também ficou sem energia.
- Apagão de 2002
O apagão registrado em 21 de janeiro de 2002, atingiu a região Centro-Sul do Brasil. Neste blecaute, pelo menos 10 estados ficaram sem energia elétrica. O estado de São Paulo foi o mais atingido nessa ocasião deixando 84% da população “no escuro” por cerca de 4 horas.
O apagão ocorreu por conta de um rompimento no cabo da linha de transmissão de energia que liga a Usina Hidroelétrica de Ilha Solteira à subestação de Araraquara, no interior de São Paulo.
- Apagão de 2001
Falta de investimentos na transmissão de energia elétrica com estiagem prolongada foi o motivo do apagão dos anos 2000, que ocorreu no Brasil entre 2000 e 2002. foi Este motivo fez reduzir drasticamente os níveis dos principais reservatórios de água no país trazendo a tona a famosa ‘crise do apagão’.
Nesta época, o governo FHC teve de elaborar um plano de racionamento para gerenciar a crise. Foi estabelecida uma meta de economia de 20% no consumo energético e consumidores que não atingissem este valor veriam sua conta de luz mais cara. O racionamento acabou em 2002 e as regiões Sudeste e Nordeste foram as mais afetadas na época.
Maurício Rahmani, analista da Reach Capital, faz análise de quais empresas mais atrativas diante de crise hídrica e aumento de tarifa de energia.