Nesta segunda-feira (31), o mercado financeiro brasileiro teve um dia marcado por cautela e forte aversão ao risco. O Ibovespa operou em queda durante toda a manhã, recuando cerca de 1% e se mantendo próximo dos 130 mil pontos. A pressão negativa veio tanto do cenário interno quanto do externo, com destaque para a expectativa de novas tarifas comerciais nos Estados Unidos.
Segundo Felipe Sant Anna, especialista em ações da Stardesk, em entrevista ao programa Flash News da BM&C, “foi um dia muito complicado para a bolsa. O investidor está com o pé no freio diante do que acontece lá em Brasília e também, claro, ao redor do planeta”.
Boletim Focus ajusta PIB para baixo e mantém inflação acima da meta
O Boletim Focus, divulgado nesta manhã pelo Banco Central, trouxe revisões relevantes. A projeção do PIB para 2025 caiu de 1,98% para 1,97%, enquanto a estimativa de inflação medida pelo IPCA permanece em 5,65% — bem acima do teto da meta, que é de 4,5%.
Felipe comenta que o boletim começou a refletir melhor a realidade do mercado:
“O Focus vem se adaptando mais à realidade… Agora nós já temos uma mudança um pouco mais substancial. O PIB talvez seja o único ponto que eu concordo. Decrescente.”
Ele também demonstrou ceticismo quanto à projeção de queda da inflação:
“Eu não confio muito nesse IPCA decrescente, principalmente com esse cenário externo e sem um grande gatilho interno de melhora fiscal.”
Além disso, a expectativa para a Selic segue estável em 15% ao ano, indicando que o mercado ainda projeta juros altos por um longo período. Já o dólar foi ligeiramente ajustado para baixo, com projeção de R$ 5,92 ao fim de 2025.
BRB compra Banco Master e acende sinal amarelo no mercado
No noticiário corporativo, a principal manchete foi a aquisição de 58% do Banco Master pelo Banco de Brasília (BRB), em uma operação de R$ 2 bilhões. A transação inicialmente animou o mercado, com alta nas ações do BRB, mas começou a gerar dúvidas ao longo do dia.
Segundo Felipe Sant Anna:
“Polêmica, muito polêmica… O BTG Pactual teria oferecido R$ 1 pelo banco. Agora o BRB, um banco de capital público, aparece comprando por R$ 2 bilhões. Isso acende um alerta.”
Ele também apontou para possíveis riscos na carteira do Master:
“Muitos precatórios e CDBs com remuneração acima do mercado. Outros bancos começaram a se manifestar sobre o risco da operação. Tem muito mais dúvida do que certeza agora.”
JBS anuncia expansão no Vietnã com investimento de US$ 100 milhões
Outra gigante que movimentou o pregão foi a JBS, que anunciou um investimento de US$ 100 milhões para a construção de duas fábricas no Vietnã, mirando o mercado asiático.
Felipe elogiou a estratégia de internacionalização:
“A maior processadora de proteína animal do planeta está ampliando presença global. O ciclo é perfeito: exporta matéria-prima, gera empregos no Brasil e no exterior, traz dólares para cá e paga imposto duas vezes.”
Apesar do otimismo, ele também destacou que parte do mercado aproveita para realizar lucros:
“Os papéis da JBS só não sobem mais porque já vêm de uma sequência positiva. É natural o investidor aproveitar para realizar.”
Petrobras troca conselheiro em meio a cenário fiscal incerto
A Petrobras também esteve no radar com a saída de Marcelo Gasparino do Conselho de Administração, sendo substituído por Aloisio Macário. A mudança ocorre em um momento de incertezas sobre a política de preços da estatal e sua governança.
Investidores atentos à “semana D” no mercado internacional
O clima de tensão global continua a pesar sobre os mercados. O grande foco da semana é o dia 2 de abril, quando os Estados Unidos devem anunciar novas tarifas comerciais. A possibilidade de taxações lineares a todos os parceiros comerciais, incluindo o Brasil, preocupa os investidores.
Para Felipe Sant Anna, o momento exige prudência:
“Cautela, cautela e cautela. É o mantra da semana. Temos muitos indicadores saindo, inclusive o payroll na sexta-feira. Baixíssima alavancagem é o caminho.”