O Tesouro Nacional anunciou uma série de medidas emergenciais para lidar com a volatilidade no mercado de dívida pública, incluindo a suspensão dos leilões de títulos pré-fixados e a realização de leilões simultâneos de recompra e venda de títulos. Segundo o professor Alexandre Cabral, a intervenção busca estabilizar a curva de juros, que apresenta sinais claros de disfuncionalidade.
Motivos da intervenção
Nos últimos leilões, o Tesouro enfrentou baixa demanda por títulos pré-fixados, mesmo com taxas atrativas. O mercado tem preferido títulos pós-fixados atrelados à Selic devido à dificuldade de precificação da curva de juros. Essa resistência é resultado de incertezas políticas e econômicas, como as declarações recentes do presidente Lula e a tramitação de pacotes econômicos no Congresso.
Para Alexandre Cabral, a situação foi agravada pelo relatório do JP Morgan, que recomendou cautela com os títulos brasileiros. “Esse relatório tem um peso enorme entre os investidores estrangeiros e afeta diretamente a confiança no mercado local”, destacou o professor. Para conter a volatilidade, o Tesouro adotou uma nova estratégia, realizando leilões simultâneos de compra e venda de títulos. Diferente do formato inicial, as operações agora envolvem dinheiro por título, sem necessidade de troca direta entre papéis.
Cabral explica que a ação do Tesouro tem um objetivo claro: “O Tesouro está atuando como um corretor, tentando dar liquidez ao mercado e ajustar a curva de juros, que já ultrapassou a marca de IPCA + 8,30%, a maior do ano.” Além disso, os volumes dos leilões foram reduzidos drasticamente – somando cerca de R$ 1 bilhão nesta semana, em comparação às captações tradicionais, que podem chegar a R$ 20 bilhões.
Impacto e expectativas
O professor Alexandre Cabral acredita que esta será apenas a primeira de várias intervenções do Tesouro. “Eles estão testando o mercado, mas se não trocarem os títulos longos por papéis indexados à Selic, a curva pode continuar estressada”, alertou.
O Tesouro costuma interromper suas operações na semana do Natal e Ano Novo, mas, se novas intervenções forem necessárias nesse período, será um sinal de que a situação ainda é crítica.
Cenário externo e desdobramentos
A recomendação do JP Morgan e o cenário de incertezas econômicas colocaram pressão adicional sobre os títulos brasileiros. “Esse tipo de declaração tem um efeito cascata entre os investidores estrangeiros, e o Tesouro precisa reagir com firmeza para restaurar a confiança”, reforçou Cabral. A suspensão dos leilões de pré-fixados e a mudança na abordagem demonstram a preocupação do Tesouro em evitar uma deterioração ainda maior do mercado de dívida. A expectativa é de que as próximas intervenções tragam mais clareza sobre a real precificação da curva de juros.