O relatório de emprego dos Estados Unidos (Payroll) de outubro surpreendeu o mercado ao registrar a criação de apenas 12 mil novas vagas, bem abaixo das 113 mil vagas projetadas pelos analistas. Essa baixa na geração de empregos levanta preocupações sobre a cautela do mercado de trabalho americano e adiciona um elemento de incerteza às próximas decisões do Federal Reserve (Fed).
Apesar da criação de vagas menor que o esperado, a taxa de desemprego se manteve estável em 4,1%, em linha com o consenso do mercado. Um dado que chamou atenção foi o salário médio por hora, que subiu 0,4% em relação ao mês anterior, superando a previsão de 0,3%. Na comparação anual, o aumento foi de 4%, também acima da expectativa.
Essa elevação no salário médio sinaliza uma pressão inflacionária no mercado de trabalho, já que o aumento de salários pode refletir no consumo e, eventualmente, nos preços ao consumidor. Para o Federal Reserve, que já vem adotando uma política monetária restritiva para conter a inflação, esse cenário pode influenciar os ajustes de taxa de juros previstos para a próxima reunião.
O número reduzido de vagas criadas, aliado ao aumento salarial, desenha um quadro complexo para a economia americana, em que o crescimento do emprego parece estar desacelerando enquanto a pressão salarial se mantém. Analistas do mercado financeiro avaliam que o relatório traz elementos de incerteza que podem impactar a próxima decisão do Fed, deixando o cenário de política monetária mais difícil de prever.
Opinião Fábio Fares
Para o analista macroeconômico Fabio Fares, o relatório é um reflexo de um mercado de trabalho em desaceleração, mas com uma pressão inflacionária ainda persistente nos salários. “As perdas nos setores de manufatura e serviços temporários indicam que o mercado de trabalho americano está sentindo os efeitos das condições adversas, tanto externas quanto internas. No entanto, a alta nos salários (+0,4%) acima do esperado mantém a pressão inflacionária, o que pode dificultar o posicionamento do Fed nas próximas reuniões”, explica Fares.
O especialista também comenta sobre os impactos dos eventos climáticos recentes. “Os furacões e greves causaram distorções importantes no cenário de emprego, tornando esse relatório um tanto atípico. Contudo, o fato de o mercado de trabalho mostrar resiliência, com a taxa de desemprego mantida em 4,1%, sugere que a economia ainda resiste, embora os sinais de fragilidade estejam mais evidentes.“
Fares conclui que a combinação de fatores adversos, somada ao aumento da pressão salarial, poderá influenciar a decisão do Fed na próxima reunião, deixando o cenário de política monetária mais incerto e volátil.
Opinião Gustavo Cruz
Para Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimento, o resultado fraco do Payroll não deve ser interpretado como um problema econômico profundo. O estrategista destacou que no período foi contabilizadas algumas greves que contribuíram para esse número, mas que não vê um grande problema. “Acredito que seria uma leitura muito superficial, olhar para essa criação bem mais fraca e entender como problema,” afirmou Cruz.
Ele também sugere que o Fed deverá seguir com o corte de 0,25 ponto percentual na próxima reunião, reiterando que o foco do impacto econômico real está nas eleições americanas. Segundo ele, “para as reuniões do FED não vai mudar muito, eles vão fazer 0.25 a semana que vem, depois em dezembro também.” completou Gustavo Cruz.